PAUSE 64 | Seguindo a paixão perdida
Hoje proponho encontrar o rastro do entusiasmo e confiar nos instintos
Quero começar com uma frase que está nas minhas referências há tempos:
“Talvez não tenha sido o estilo inicial que atraiu o sucesso, mas sua paixão pessoal por ele. Assim, se a paixão mudar de rumo, siga-a. É a confiança em seu instinto e em sua empolgação que reverbera nos outros.”
Rick Rubin
Tem pelo menos três pontos nevrálgicos para uma carreira plena e possivelmente mais equilibrada contidos nessa frase.
o fator paixão, e a possibilidade de que a paixão mude;
a importância de confiar no instinto, seguir a intuição;
a empolgação como algo que nos divulga na inércia.
Assim que li a frase, me peguei pensando no “desapaixonamento” das coisas que nos acomete ao longo da vida e de como acabamos seguindo no piloto automático. Evitamos pensar no incômodo de nada fazer o nosso olho brilhar no momento. Pior é que, se o olho não está brilhando, provavelmente estamos bem opacos também.
Esse acomodar-se no incômodo é uma tendência humana. Tem a ver com o fenômeno comprovado por cientistas comportamentais de nos comprometermos além da conta com antigas decisões tomadas.
Tendemos a continuar num trabalho ou num relacionamento ruim para reforçar as nossas certezas, por medo de tentar de novo e falhar, por uma série de fatores. Segundo esses estudos, seguimos o caminho definido lá atrás basicamente porque ele foi escolhido por nós e precisamos nos provar certos. Romper com o que um dia definimos como bom parece doer mais do continuar ali, sofrendo calados em terreno conhecido.
Esse comprometimento com as decisões passadas explica em grande parte porque às vezes demoramos tanto para quebrar um ciclo vicioso terrível.
É difícil mesmo encarar a vida e descobrir que não gostamos mais do que fazemos, da rotina que levamos e nem muito da pessoa que nos tornamos.
Só que às vezes continuar no script começa a exaurir, a doer.
Olhe para o lado e para dentro e verá que existem danos gravíssimos advindos da ausência de paixão. O piloto automático tem o seu valor, mas, se estiver contaminando todas as esferas da vida, anestesia e mina um pouco da nossa humanidade.
Lembra como era?
Sair do automático nem sempre é opcional, convenhamos. A zona de conforto vira de desconforto quando nos empurra pra fora dela. Quando aquele sofá antes macio e quentinho perde o forro, a base e mofa. Aí vêm as fases de dúvida, exaustão, de repensar a carreira, querer sair correndo, se sentir escorregando o tempo todo. Não há paixão nem empolgação aí. Há desânimo e às vezes até desespero.
A incerteza sobre o futuro também é uma dor muito mal tolerada pelos seres humanos.
Como acreditar na gente, recuperar o élan vital da juventude, do início da carreira, de quem (achava que) sabia tudo?!
Como recobrar a empolgação dos primeiros tempos de trabalho, quando a gente se sentia energizada, invencível? Quando a estrada do futuro era mais comprida?
Como acreditar nas pessoas? Ou permitir-se sentir borboletas no estômago?
Como reencontrar o nosso brilho?
O tempo espreme, o sistema oprime, a realidade muitas vezes nos conta que talvez não sejamos tão especiais assim - uma dor, não sei se você sabe, especialmente premente em nós, millennials.
É preciso um esforço consciente para reencontrar os sentimentos mais vibrantes, sabe? Apaixonar-se pela vida e pelas pessoas quando somos mais calejados não vem de dormir com as decisões antigas, mas de acordar com novas. Repensar o que temos, o que queremos e quem somos. Levar-se menos a sério. Ter coragem para ousar, falhar e sentir. Ressensibilizar-se.
No meio dessa crise, uma crise positiva, ouso dizer, sugiro pendurar um outdoor mental: a única certeza é a mudança.
Menos rigidez para poder (re)criar realidades que nos satisfaçam. Não realidades quiméricas, mundos paralelos. Realidades cotidianas, pessoais, que nos lembrem da nossa importância e das nossas possibilidades, mesmo quando o vento não parece favorável.
A frase lá do início, falando sobre mudar de rumo se a paixão mudar, é especialmente útil nessa hora.
Reapaixonar-se
Talvez a sua paixão maior ainda seja a mesma, mas as suas atitudes, o mercado e as pessoas é que tenham te deslocado do seu prumo. Tem que limpar o entorno nem que seja temporariamente para descobrir se aquela paixão antiga está aí - nem sempre uma paixão estritamente profissional, mas pela vida mesmo.
Dá para polir uma velha paixão empoeirada. Isso não equivale a se comprometer com as decisões antigas, equivale a tomar de novo e de novo uma decisão similar. Tipo renovar votos consigo mesmo, em qualquer área da vida.
Talvez a sua paixão tenha migrado para outras áreas, os interesses estejam em pontos inimagináveis há 15, 20 anos. E, encarando a realidade sem aquele apego excessivo, dê para sacar isso e aceitar que você mudou, amadureceu.
Por que temos que dar uma conotação negativa (tipo crise de meia idade) para a sensação de não se encaixar no mundo mais da mesma maneira quando estamos ficando grisalhos? É dolorido na hora, mas existe muita beleza nessa vontade de mudar. Vamos meter os pés pelas mãos nas tentativas, por isso insisto em nos levarmos menos a sério.
Digo mais. Em termos de carreira, é preciso explorar, pôr a mão na massa mesmo. Em vez de lutar contra o desapaixonamento profissional atual, assumi-lo e ir pra luta enfrentando estereótipos e as suas sensações de inadequação.
Seguir a curiosidade em torno do novo, para recuperar um pouco do entusiasmo juvenil que sentimos escorrer pelos dedos.
Não subestime o entusiasmo: ele é, talvez, a mais contagiosa das emoções de valência positiva, aquelas que nos provocam coisas boas. Recuperar o entusiasmo por uma área profissional, um hobby, um esporte, um tipo de gente… isso contagia também as demais esferas da vida. Isso vai até “te vender” numa nova área.
Pode ser que desviar a rota, no embalo da curiosidade e do interesse pela nova pessoa que estamos nos tornando, seja o que está faltando para dar saltos na carreira, impulso à vida amorosa e mais risada no caminho.
Interesse, entusiasmo, movimento (no seu ritmo).
O instinto impulsiona
Parte de se entusiasmar mais e dialogar com a paixão é lidar menos com racionalidade e mais com instintos. Creio que aí mora nossa maior aversão às paixões depois de certa idade, sejam por pessoas ou projetos. Sabemos que eles são falíveis e conhecemos a dor da decepção.
Falo com conhecimento de causa.
Em algum momento das minhas torturas mentais vindas da exaustão extrema (falei disso na PAUSE 1), passei a desconfiar do meu instinto. Logo eu, que sempre usei meu feeling como o maior plano de carreira, aliás, plano de vida. O meu instinto me assoprava o que queria, criava uma ventania de certeza que me impulsionava e dava entusiasmo - aquele, bem contagiante.
O período em que duvidei do meu instinto foi o mais difícil para mim. Eu fechei janelas, ou pelo menos as cortinas, para ele. Fiquei pensando que você pode estar operando da mesma forma. Se sim, sugiro que faça como eu fiz: mês a mês, fui abrindo frestinhas, deixando o ar circular, testando acreditar no soprinho da intuição que entrava. Já há alguns meses, tenho deixado abertas todas as portas e janelas para o instinto.
Poupo a pouco, o instinto volta a ventar forte e nos carregar mais. Fica mais leve… Vale o esforço.
Com o instinto e a sensibilização, o entusiasmo faz seu caminho de volta, e encontramos vielas para nos apaixonar, inclusive pela pessoa que somos. Aí está o brilho, o élan, o borogodó com potencial para colocar nossa vida nos trilhos, ou tirar de trilhos enferrujados.
Estou neste momento convidando o instinto para entrar, acompanhado do entusiasmo e da paixão. Estamos trabalhando juntos, fazendo happy hour, vendo filmes, tirando sonecas sem culpa, pois hoje bem sabemos que não somos de ferro. Voltamos a morar juntos, renovamos os votos.
Este é o seu convite para a festa. Dresscode livre porque se refazer e ser feliz não tem idade, caretice nem limite de decibéis.
Aliás, faça a sua a própria festa. Renove seus votos com as suas paixões também. O entusiasmo e o instinto virão junto.
Sim, são relacionamentos poligâmicos.
"Seguindo a paixão perdida” em áudio pra vc
Pra sua semana
Filme OS REJEITADOS (Prime Video)
O filme premiado mistura drama e comédia, é sensível e tira a gente do ritmo normal. Traz reflexões que casam muito bem com o tema de hoje, principalmente com a ideia de reencontrar o brilho, o entusiasmo pela vida. Fala de 3 figuras passando por dores mais ou menos aparentes que passam as festas de fim de ano juntas e acabam criando um vínculo bonito, mas que, principalmente, faz cada um entender mais sobre si mesmo e os novos rumos que querem tomar.
Aliás, fez o degelo?
A proposta de fotografar mentalmente seu momento atual para entender o que está passando foi o tema da última edição de PAUSE. Para ler - e tentar - o que batizei de Degelo Emocional, você pode clicar aqui.
Por que ser assinante PAUSE
Esta newsletter tem um ano e meio e se reafirmou recentemente como um local de textos e referências para pensar novos moldes de vida e de carreira. Ganhou o nome PAUSE para lembrar que às vezes é preciso pausar para continuar em movimento - seja descansando, repensando a vida, lendo, revendo conceitos, mudando a direção…
Estudo comportamento, branding pessoal, carreira, tendências e uso abundância de referências desde sempre. Isso está aqui. Depois do burnout que tive dois anos atrás, passei a olhar ainda mais criticamente para os temas que sempre estudei, e agreguei mais saúde mental, bem-estar e “relax” para o combo. Então isso também está aqui.
O resultado é esta newsletter, que passou a ter versão de assinatura paga (R$35 por mês).
E aí você me pergunta: por que eu deveria me tornar um assinante pago pela PAUSE?
Vou te explicar o que estamos criando aqui:
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Além da newsletter semanal, os assinantes recebem textos extras eventuais e exclusivos.
Apenas os assinantes têm direito a descontos em encontros, cursos e aulas que devo lançar em vôo solo em breve. É uma forma de fortalecer a nossa comunidade e levar para o lado educacional também.
E, é claro, é uma forma de apoiar um trabalho autoral, que precisa de tempo, energia e suporte para continuar. A torcida agradece <3
Eu, o que faço e o meu Pause
Oi, eu sou a @brufioreti 🙂.
Jornalista. Especialista em branding pessoal e transição de carreira. Defensora do repertório amplo e do combo ler/escrever para viver melhor. Generalista por natureza, interessada em comportamento, neurociência, emoções, arte, feminismo, moda e tendências.
Tenho 20 anos de jornalismo como editora em grandes redações, cobrindo principalmente Cultura, Comportamento, Moda e Beleza: os lugares que mais me marcaram foram a Revista Glamour, onde fui redatora-chefe por 5 anos, e o Estadão e seu extinto primo paulistano Jornal da Tarde, nos quais passei 6 anos.
Sou das Humanas, mas trago números para me apresentar, veja você.
Tenho quase 42 anos de vida, 18 anos vivendo em São Paulo, 8 anos de empreendedorismo, 6 planetas no mapa em Libra, 2 casamentos, 2 gatos, zero filho.
Dezenas de cursos ministrados por mim, chuto pelo menos uns 15 como aluna entre pós e extensões. No mínimo 8 mil alunos e mentorados até aqui, palestras que não consigo mais contar.
Uns 5 projetos iniciados e não terminados, livro sendo escrito. Muitos porres nesta vida, poucos palpites sobre outras.
Um burnout pra conta e um sem-número de ideias pra dividir <3.
Nesta newsletter, tento sempre voltar à estaca zero e me lembrar do que realmente importa. Aciono o botão PAUSE e venho compartilhar sem pressa nem algoritmo coisas que me ocorrem gerundiando: vivendo, mentorando, botecando, estudando, ensinando.
Trago leituras, práticas e Clube do Livro para quem quer pensar novos moldes de vida e de carreira e sabe que pausar é o único jeito de continuar em movimento.
Ah, essa lição, aprendi com muita força depois de passar por um burnout e faço questão de levar adiante.
obs. para saber mais dos meus trabalhos para além desta seara, em palestras e cursos, acesse brufioreti.com.br
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Quanta reflexão!!! Adorei esse texto!!
Vou salvar pra voltar nele depois!!