PAUSE 76 | (Nem) Tudo muda
E quando deixamos de gostar das mesmas coisas? Ou quando o mercado vira do avesso, totalmente? Nesta edição, buscamos o que há de perene na marca pessoal e na trajetória profissional
PAUSE PRA PENSAR
E a gente vai se rotulando…
Quem é você agora que rejeita o que gostava?
Quem é você quando não se sente mais totalmente representada pela “eu” de ontem?
Nem precisa ir tão fundo na resposta: basta buscar na memória como se sentiu e o que aconteceu quando deixou de curtir um estilo de música, parou de frequentar um estilo de festa, algo assim. Todas já passamos por isso quando saímos da adolescência e superamos.
Mas, conforme ficamos mais maduras, mais autoconscientes e seguras dos nossos gostos, quebrar as próprias regras passa a gerar uma crise um pouco maior. Ou pelo menos uma bela reflexão sobre viver um eterno gerúndio, estar sempre “nos tornando”.
O que te define hoje pode não ser essa rocha toda para te apoiar amanhã. Ter a certeza dessa fluidez primeiro assusta, mas, pouco a pouco, começa a trazer mais leveza e flexibilidade.
No meu caso, a maioria dos gostos se mantém fidelíssima, porém em novas proporções a cada temporada.
Na “season” atual, esta protagonista frequenta infinitamente menos barzinhos do que antes e teimou até entender que não há nada de errado nisso. Ela apenas está mais propensa a cinemas, chás e programas caseiros. A voz da narradora apareceu aqui e a chamou de velha, acredita? Ai, ai. Pois a nossa protagonista de fato mudou alguns hábitos e está cada vez mais confortável sozinha. De formas impensáveis temporadas atrás.
Ela é melhor ou pior que a mocinha com 20 anos a menos?
Não sou eu quem vai julgar, porque essa aqui não ia existir sem a outra. E elas seriam muito amigas se viajassem no tempo. Com a diferença que a novinha precisava mais do mundo externo para se definir. Queria se provar, achar seu lugar ao sol, estava se endurecendo e quase a ponto de perder a ternura para chegar lá. Já a tiazona de hoje se basta na maior parte do tempo, sabe quais são seus melhores lugares ao sol e aprendeu que a ternura nunca vai embora, não importa quão dura seja a casca que crie.
No seu caso, quais as diferenças das protagonistas nas diferentes temporadas? Olhando assim, lado a lado, ambas não são muuuito você?
Eu gosto desse tipo de reflexão, temporal. Acho que ajuda a descolar de autodefinições depreciativas ou simplistas.
Tem sido tão comum nos definirmos de acordo com os papéis, o trabalho e os gostos que passamos a acreditar que, se perdêssemos algum desses pilares, nos escaparia a própria identidade.
Essa categorização pessoal tem ficado especialmente intensa com a cultura autorreferente do trabalho, das redes sociais, das tribos… Sem contar as relações cada vez mais guiadas pela lógica capitalista - o que transcende o dinheiro em si. é um modo de ver a vida mesmo.
Quem é você?
Você acaba se acostumando a se resumir para caber em pedaços da sua existência: o que faz, o que propaga, do que participa, do que gosta, quanto ganha, que lugares frequenta.
Isso, inclusive, é uma dor imensa para quem começa a pensar em branding pessoal como forma de gerenciar melhor a carreira. Quando uma pessoa se descobre múltipla, acredita que não é “um produto” vendável, compreensível para o público.
Não é mesmo, porque ninguém pode ser apenas um produto nem totalmente vendável.
Entender a nós mesmas como donas de uma identidade maior, um guarda-chuva amplo e bonito que abarca todos os papéis que desempenhamos: essa é a ideia de marca pessoal que pode sair dessa reflexão toda.
Algo amplo, único, calcado em todos os sinais que emitimos, mas ainda assim maior que eles.
Se deixar de gostar do que gostava, a sua marca pessoal vai ser muito parecida ainda com o que era, pois ainda sairá de você. Mas ela pode mudar com você, porque nada mais é que um conjunto de expressões de quem é e quer se tornar.
Não deixe que as simplificações do mundo, principalmente o profissional, te espremam em rótulos frágeis, que podem desgrudar a qualquer momento.
Comunique-se, sim, mas tome as rédeas de como faz isso, no seu gerúndio particular. Cole os seus rótulos autorais, sopreponha-os, faça arte com eles. Não carece descolar os antigos; é ainda mais interessante reconhecê-los e bancar uma colagem que honre o passado.
A complexidade só soa complexa para quem não vive a própria.
Somos complexas e mudamos sempre. Se nos permitimos acolher essa verdade, nossa mensagem cada vez soará mais simples. Simples, no bom sentido, pois verdadeira, identificável, acolhedora, única.
PAUSE PRA CRIAR
10 dicas de trabalho dos anos 90 que valem muito ainda hoje
Neste fim de semana, estava folheando livros sobre carreira e sucesso, especialmente os do Brian Tracy, e… bem, claro que tenho uma chuva de críticas à mentalidade que está ali. Porém, encontrei coisas que continuam válidas: atitudes profissionais importantes no mundo corporativo dos anos 1990, mas que continuam atuais nessa nossa Babel profissional de 2024.
Separei as máximas que acho mais pertinentes e que têm tudo a ver com a visão que tento trazer sobre branding pessoal: ter uma ideia mais clara do que quer, trabalhar para isso na comunicação e na rede de contatos, e agir sempre nessa direção, diminuindo os ruídos do caminho.
A seguir, dez pérolas profissionais ótimas pra começar a aplicar agora que estamos entrando nos 3 últimos meses do ano.
Algumas parecem um pouco óbvias, né? A pergunta que deixo é: você está mesmo aplicando?
Você precisa acreditar em você.
Atualização: Isso virou lugar-comum, mas nem por isso deixa de ser importante. O maior trunfo da crença não é o fato de ela ser verdadeira ou não, mas o que faz pela sua autoconfiança. Acredite que pode ir mais longe por tempo suficiente e isso vai te fazer insistir e de fato realizar mais, se fortalecer. Como faziam os maias e os astecas, pode ser uma boa separar um tempo toda manhã para repetir mantras positivos ou escrever coisas que você sabe fazer bem, ou uma lista do que deseja conquistar. Apesar da chacota que rola por aí sobre essas atitudes, eu mesma já fiz e recomendei muito e funciona. Não é que resolve a vida só no pensamento, gente. É porque ajuda na autossugestão e a elevar o pensamento e a confiança. Aí vêm as atitudes e, com o tempo, os resultados. Fica a ideia pra você.
Decida o que quer com o máximo de precisão possível.
Atualização: Você sabe que não está 100% no controle das coisas, mas também não precisa cultivar o sentimento de estar totalmente à deriva. Conseguir enxergar uma direção para a sua vida ajuda a tomar decisões melhores no dia a dia, porque dá foco. O primeiro passo é fazer com que os desejos virem metas, colocando detalhes e prazo neles.
Registre suas metas por escrito.
Atualização: Pouca gente fazia isso lá atrás e pouca gente se dedica a fazer isso ainda hoje. Mas escrever sobre si mesmo, sobre o que quer, sobre qualquer coisa, ajuda a organizar as ideias. No caso de se planejar há muito mais coisa envolvida. Há uma relação direta entre uma maior realização na vida e o fato de registrar as metas no papel. Uma das razões é que escrever aumenta o comprometimento. Experimente, quem sabe, colocar metas com o prazo de 3 meses, para realizar até o fim deste ano. A chance de essas ideias frescas na sua mente e no papel se concretizarem é maior porque estarão no seu radar, parecendo palpáveis.
Movimente-se o dobro do que faz hoje.
Atualização: Essa propensão à ação, quando exagerada, pode levar a uma pilha ruim, aquela do “trabalhe enquanto eles dormem”, um absurdo para a saúde mental. Mas, em pequenas pílulas, a ideia de se mexer mais em direção ao que quer aumenta a sensação de realização em todas as esferas da vida. Existe um meio-termo ótimo para cada um. Uma ideia clássica é todos os dias fazer pelo menos 1 PEQUENA COISA que te leve em direção ao que deseja. Pequeníssimos passos, mas que trazem bem-estar e resultados pouco a pouco. É se movimentando que a vida se movimenta ao seu redor. Então, se quer mudar de carreira, cultivar uma oportunidade nova, inaugurar um projeto, é preciso que tire as ideias do plano mental e comece a ticar da lista uma série de ações que te ajudem a realizar.
Cultive a coragem.
Atualização: Muita gente achava antes que a coragem era uma característica nata, mas pode ser treinada, aprendida. Liste o que precisaria fazer para alavancar a carreira, mas tem vergonha. Pois vá lá, com vergonha mesmo, e tente uma coisa. O resultado vai estimular a continuar se encorajando.
Cuide da sua reputação.
Atualização: Pouca gente fala da reputação fora do âmbito digital hoje, mas a verdade é que a sua "fama" te precede em qualquer ambiente e é essencial para subir de cargo, trocar de empresa, conseguir indicação ou financiamento. Cumpra as suas promessas mesmo quando ninguém está vendo, aí mora a integridade e idoneidade que, se não é vista, é sentida pelas pessoas. Trate as pessoas bem. Afaste-se de quem não “casa” com aquilo que acredita porque cobranding ruim cola como chiclete, e você não quer ser associado a nada que te prejudique.
Não ache vai longe sozinho.
Atualização: Nos anos 1950, 1990 ou hoje foi e é preciso ter aliados na seara profissional, que te apoiem e sejam apoiados por você. Hoje, com o cenário tão mais complexo, é praticamente impossível dominar todas as áreas necessárias para ascender. É preciso se aliar às pessoas certas, contratar gente de diferentes gerações, aprender a lidar com essas diferenças.
Estude mais que os outros.
Atualização: A diferença é que o autoaperfeiçoamento hoje não é tão linear como antigamente, quando era previsível a rota de estudos necessária para crescer na profissão, como fazer graduação e pós. Mas, ainda hoje, manter-se sempre aprendendo algo novo é um diferencial para pensar à frente dos demais. Também permite ter ideias mais criativas, num cenário em que a maioria se contenta em buscar as respostas prontas da AI. Ampliar o repertório de maneira não óbvia hoje muitas vezes é mais interessante que seguir um caminho acadêmico numa só área, embora ainda haja espaço para superespecialistas. Então, eu diria que o conselho hoje é: estude mais que os outros, e estude diferente dos outros.
Domine a comunicação.
Atualização: ser um excelente orador e saber se expressar nas reuniões sempre foi essencial, a diferença é que agora isso virou básico. O que faz diferença mesmo é a comunicação num nível mais avançado, aliás, em dois: a comunicação não verbal, transmitida estrategicamente no dia a dia por meio de gestual, roupas, objetos etc; e a comunicação nas mídias sociais, uma vitrine que não pode virar telhado de vidro. Num cenário em que temos à mão um arsenal de conhecimento, saber reuni-lo criativamente e apresentá-lo bem é um baita diferencial. Saber se comunicar é uma habilidade ampla. Inclui ler e aperfeiçoar a si mesmo, entender as necessidades de comunicação do outro e decifrar o cenário mais amplo. Eu diria que esta é a maior das habilidades para a carreira hoje.
Seja generoso.
Atualização: é importantíssimo conhecer muita gente, ampliando a rede de contatos para além de uma só bolha. Mas essa rede precisa ser cultivada, e a melhor forma de fazer isso é praticando a generosidade. Sempre comece buscando como contribuir com o outro: é daí que nasce o networking valioso.
PAUSE PRA LER
Clube do livro: Já tá lendo o de outubro?
Não custa te lembrar da nossa lista do ano, né? O encontro vai ser lá na segunda quinzena de outubro, tá?
Outubro: Ainda Estou Aqui, Marcelo Rubens Paiva.
Por que tem a ver com Pause: Confesso que fui influenciada pelo fato de este livro ser o que inspirou o filme homônimo nacional premiado em Cannes e que está alçando Fernanda Torres à posição de candidata a melhor atriz no Oscar. Até ver o filme, e torcer para que essa promessa belíssima se concretize, proponho ler na fonte. Tem uma escrita fluida, deliciosa. Drama familiar no contexto da ditadura brasileira, com pensamentos sobre a memória, ou falta dela. Até que ponto somos feitos das nossas memórias? Mal comecei a ler e me veio essa ideia. Quis viajar nela com você, vamos?
Novembro: O Despertar da Heroína Interior: a Ascensão de Perséfone e Outros Mitos e Arquétipos na Jornada do Herói, Carol S. Pearson.
Por que tem a ver com Pause: Estou arriscando um pouco aqui, porque comprei mas ainda não li o livro… Ah, vamos fazer essa aventura juntas? Já usei muito a obra da Pearson no meu trabalho com branding, ela é uma autoridade em arquétipos. E quando vi que tinha lançado esse livro (em julho de 2023), achei que podia nos oferecer ferramentas e inspirações extras como pessoas, mulheres, marcas pessoais.
Dezembro: Dysphoria Mundi, Paul B. Preciado.
Por que tem a ver com Pause: Um livro de gênero meio inclassificável (o que arrisco dizer que é uma metalinguagem). Venho lendo lentamente essa obra densa, com um mix do melhor desse autor genial, do mais sociológico e combativo ao mais filosófico e íntimo. Ali, vamos mergulhar no mundo pós-pandêmico e repensar o sistema capitalista e seus inúmeros desdobramentos de forma única, interdisciplinar, fora do que estamos acostumados. Vai dar um papo muito bom para o fim do ano, que não há de ser fim de mundo. Preciado nos guiará no caminho.
Pause é…
Esta newsletter tem um ano e meio e se reafirmou recentemente como um local de textos e referências para pensar novos moldes de vida e de carreira. Ganhou o nome PAUSE para lembrar que às vezes é preciso pausar para continuar em movimento - seja descansando, repensando a vida, lendo, revendo conceitos, mudando a direção…
Estudo comportamento, branding pessoal, moldes de carreira, tendências e uso abundância de referências desde sempre. Isso está aqui. Depois do burnout que tive dois anos atrás, passei a olhar ainda mais criticamente para os temas que sempre estudei, e agreguei mais saúde mental, bem-estar e “relax” para o combo. Então isso também paira nas nossas conversas.
O resultado é esta newsletter, que passou a ter versão de assinatura paga (R$35 por mês), com conteúdos novos e exclusivos.
Recordando o que temos aqui:
Clube do Livro e do Repertório, com encontros virtuais para assinantes
Insights e ideias de branding pessoal, carreira e outros temas quentes para assinantes, com exclusividade
Eventuais descontos em projetos especiais
Claro, o texto mais lúdico da newsletter semanal, que continua gratuito
Eu, o que faço e o meu Pause
Oi, eu sou a @brufioreti 🙂.
Jornalista. Especialista em branding pessoal e transição de carreira. Defensora do repertório amplo e do combo ler/escrever para viver melhor. Generalista por natureza, interessada em comportamento, neurociência, emoções, arte, feminismo, moda e tendências.
Tenho 20 anos de jornalismo como editora em grandes redações, cobrindo principalmente Cultura, Comportamento, Moda e Beleza: os lugares que mais me marcaram foram a Revista Glamour, onde fui redatora-chefe por 5 anos, e o Estadão e seu extinto primo paulistano Jornal da Tarde, nos quais passei 6 anos.
Sou das Humanas, mas trago números para me apresentar, veja você.
Tenho quase 42 anos de vida, 18 anos vivendo em São Paulo, 8 anos de empreendedorismo, 6 planetas no mapa em Libra, 2 casamentos, 2 gatos, zero filho.
Dezenas de cursos ministrados por mim, chuto pelo menos uns 15 como aluna entre pós e extensões. No mínimo 8 mil alunos e mentorados até aqui, palestras que não consigo mais contar.
Uns 5 projetos iniciados e não terminados, livro sendo escrito. Muitos porres nesta vida, poucos palpites sobre outras.
Um burnout pra conta e um sem-número de ideias pra dividir <3.
Nesta newsletter, tento sempre voltar à estaca zero e me lembrar do que realmente importa. Aciono o botão PAUSE e venho compartilhar sem pressa nem algoritmo coisas que me ocorrem gerundiando: vivendo, mentorando, botecando, estudando, ensinando.
Trago leituras, práticas e Clube do Livro para quem quer pensar novos moldes de vida e de carreira e sabe que pausar é o único jeito de continuar em movimento.
Ah, essa lição, aprendi com muita força depois de passar por um burnout e faço questão de levar adiante.
obs. para saber mais dos meus trabalhos para além desta seara, em palestras e cursos, acesse brufioreti.com.br
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Excelentes dicas!! Mesmo o óbvio e conhecido precisa ser relembrado; na prática, aplicamos muito pouco do que sabemos e dificilmente com a consistência necessária. Esses chacoalhões são muito importantes!!
Ah! Isso me trouxe uma nostálgica lembrança da sua coluna no Uol. 😉