Quando você pensa na sua carreira, hoje, qual o sentimento? Seja qual for, perceba se vem acompanhado de uma espécie de sombra ansiosa, de uma pressa que significa “preciso de mais e preciso logo".
A sensação de estar sempre atrasado, de que ainda falta muito, sabemos, é parte de toda uma construção social, que bate em cada um de jeito.
Eu sinto essa pressão, sei lá, desde os anos da escola. Nos melhores ou nos piores momentos, sempre estava preocupada com “crescer”. Essa vontade continua aqui, firmíssima, só que hoje reconheço melhor seus prós e contras; sei com que estou lidando. Não vou me fazer de musa desapegada e dizer que não importo com o sucesso, eu super me importo, como alguém que trabalha com branding pessoal e carreira poderia não se importar? Apenas aprendi algumas coisas sobre se tornar uma pessoa bem-sucedida até aqui.
Antes de tudo, a entender o que é ser bem-sucedido de acordo com aquele momento da vida. E, com isso, relativizar o peso dado à comparação e à pressa. O ritmo das conquistas não deveria ser um peso tão grande assim, não precisa!
Saltos
Existe um tempo das coisas - timing, se preferir - para que você dê saltos na carreira. Saltos profissionais não vão acontecer toda hora, a maior parte do tempo vai ser trabalho, aprendizado, repetição, tentativa e erro. O salto vem, e em alturas variadas, de vez em quando. Algumas vezes na vida. Não adianta apressar o salto, quando for a hora, ele virá. E você vai estar preparado porque esteve o tempo todo ali, fazendo o seu.
Sei que posso soar como uma guru mística ao dizer isso, mas é que a observação dos saltos, os meus e dos outros, me ensinou a desconfiar das fórmulas e respeitar o que não sabemos explicar. O tempo das coisas merece a nossa confiança. Desde que estejamos num movimento contínuo, ele vem e entrega mudança.
Importante ainda saber que o movimento pode ser uma caminhada, não precisa ser uma corrida.
Um primeiro salto pode até ser acelerado, com aquele pique juvenil. Mas olhe ao redor e vai perceber que ninguém aguenta esse ritmo intenso ao longo da vida, o preço é muito alto: saúde, relacionamentos… Para que mesmo? Basta caminhar, devagar e sempre, que os saltos virão num momento oportuno que talvez a gente não possa antecipar.
Você não vai apressar o tempo, nem pará-lo. Você pode, no entanto, aprender a dançar com o tempo, achar o seu compasso, deixar que ele te presenteie com suas benesses e lições numa maturidade conquistada também assim, aos poucos.
Considere os melhores alunos da sala na infância, ou as pessoas que pareciam brilhantes na faculdade, ou ainda as que conseguiram estágios muito melhores que você. Quanto sofrimento! Quanta comparação! Quanto drama! Lá estávamos nós nos taxando como perdedores aos vinte e poucos anos. Chega a ser engraçado hoje, com tanta água que já rolou, né? Mas a dor era real à época. Talvez sua dor de hoje seja risível para o seu eu de 70 anos...
Eu me lembro de um certo sentimento de inferioridade que tinha diante de pessoas que já tinham feito intercâmbio ou vinham de famílias ricas e tinham acesso a cursos e experiências impensáveis para mim. Recordo a dor de achar que não daria em nada quando terminei a faculdade e não fazia ideia de como conseguir emprego num grande veículo de comunicação. Mas, olhando de hoje, me orgulho de ter feito o melhor para mim: fui caminhando, fazendo o meu, com o que tinha a meu alcance, mesmo chorando no travesseiro. Fui ganhando experiência em tudo o que aparecia, trabalhando em vários lugares, batendo na porta, até que as portas maiores começaram a se abrir. O salto veio quando ele quis, e de repente, eu estava na mesma redação, de igual para igual com aquelas pessoas que eu achava que jamais alcançaria.
Talvez você se lembre dos seus saltos profissionais e perceba que também precisou caminhar pacientemente até conseguir o algo mais que queria. Talvez você se lembre de ter conseguido uma oportunidade ou atingido uma meta antes ou depois do que esperava; você estava ali fazendo a sua parte e, tcharan!, a transformação veio. A pressa em si possivelmente nem fez muita coisa por você, ela costuma ser bem menos importante do que a constância e a rota da sua caminhada.
Empurrões
Sabe, também aprendi que às vezes a vida nos empurra para os saltos.
Nem sempre os saltos profissionais vêm serenos, pode reparar. Situações impensáveis nos fazem sair da caminhada e saltar direto, com coragem e medo, numa direção desconhecida para nós, mas - gosto de pensar - já estrategicamente delineada pelo tempo das coisas. Esses saltos aguçam nossos temores, porque parecem estar mais nas nossas mãos que os outros que vêm vestido de belas surpresas.
Já vi muito isso, de perto. Empregos perdidos, revelações de sociedades falidas, uma área que claramente não está indo adiante, uma doença inesperada. Essas situações são dolorosos convites a mudar que, aqui especificamente, vêm com senso de urgência. Cabe a nós reconhecer o que está diante de nós. É difícil porque quase sempre tudo isso parece desencaixado, fora de hora.
Mas quem somos nós para julgar o tempo das coisas?
Se a vida te empurrar, salte, não caia. E se cair, paciência, vai levantando no ritmo que der para voltar a caminhar. Porque a gente pode pausar, mas a nossa pausa sempre tem um pequeno movimento, movimento de vida. O relógio continua girando e nos convidando a seguir.
Pensar na natureza da carreira, nas suas fases, nas lutas envolvidas e em como nos esquecemos do imponderável me faz rir de mim mesma. Há certa ingenuidade em achar que apenas dar o melhor basta. Claro que o esforço é importante, que precisamos detectar os momentos de salto, saber caminhar com boas habilidades, aprender a nos valorizar… mas nem tudo está nas nossas mãos.
Hoje, acho que há certa paz nisso. Fazer o que puder, viver bem, e ter uma porçãozinha de fé na vida. Confiar que vem. Eu acho.
E você?
Sempre tive vontade de acelerar o tempo das coisas, sempre me senti precoce, curiosa, ansiosa por mais. Ouvi de mais de um especialista que meu tempo (meu cérebro) era naturalmente acelerado, então nunca estaria plenamente acostumada ao tempo e aos limites dos outros. Estranhamente, entender isso me libertou. Reconheci que a minha dinâmica é minha, que não funciono na mesma lógica que o mundo e que, se para mim, a minha carreira às vezes não parece correr o suficiente, é bom lembrar que está voando em velocidade de cruzeiro faz tempo em muitas perspectivas lá fora.
Perspectiva. Pense nisso.
Recomendo que você reconheça o seu próprio tempo também, seu ritmo mais ou menos compassado com o do mundo e o dos outros, para então saber lidar consigo mesmo e com o entorno. Daí vem a aceitação de que os saltos podem vir do nada e até do pior, ou podem simplesmente cair como presentes do céu. Vem a constatação de que não controlamos muito além da nossa própria caminhada, e que a nossa aceleração nos é peculiar, comparação só coloca pedras no caminho.
Caminhemos, saltemos, caminhemos mais, que nem tudo é pra já.
Por que ser assinante PAUSE
Esta newsletter tem um ano e meio e se reafirmou recentemente como um local de textos e referências para pensar novos moldes de vida e de carreira. Ganhou o nome PAUSE para lembrar que às vezes é preciso pausar para continuar em movimento - seja descansando, repensando a vida, lendo, revendo conceitos, mudando a direção…
Estudo comportamento, branding pessoal, carreira, tendências e uso abundância de referências desde sempre. Isso está aqui. Depois do burnout que tive dois anos atrás, passei a olhar ainda mais criticamente para os temas que sempre estudei, e agreguei mais saúde mental, bem-estar e “relax” para o combo. Então isso também está aqui.
O resultado é esta newsletter, que passou a ter versão de assinatura paga (R$35 por mês).
E aí você me pergunta: por que eu deveria me tornar um assinante pago pela PAUSE?
Vou te explicar o que estamos criando aqui:
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Eu, o que faço e o meu Pause
Oi, eu sou a @brufioreti 🙂.
Jornalista. Especialista em branding pessoal e transição de carreira. Defensora do repertório amplo e do combo ler/escrever para viver melhor. Generalista por natureza, interessada em comportamento, neurociência, emoções, arte, feminismo, moda e tendências.
Tenho 20 anos de jornalismo como editora em grandes redações, cobrindo principalmente Cultura, Comportamento, Moda e Beleza: os lugares que mais me marcaram foram a Revista Glamour, onde fui redatora-chefe por 5 anos, e o Estadão e seu extinto primo paulistano Jornal da Tarde, nos quais passei 6 anos.
Sou das Humanas, mas trago números para me apresentar, veja você.
Tenho quase 42 anos de vida, 18 anos vivendo em São Paulo, 8 anos de empreendedorismo, 6 planetas no mapa em Libra, 2 casamentos, 2 gatos, zero filho.
Dezenas de cursos ministrados por mim, chuto pelo menos uns 15 como aluna entre pós e extensões. No mínimo 8 mil alunos e mentorados até aqui, palestras que não consigo mais contar.
Uns 5 projetos iniciados e não terminados, livro sendo escrito. Muitos porres nesta vida, poucos palpites sobre outras.
Um burnout pra conta e um sem-número de ideias pra dividir <3.
Nesta newsletter, tento sempre voltar à estaca zero e me lembrar do que realmente importa. Aciono o botão PAUSE e venho compartilhar sem pressa nem algoritmo coisas que me ocorrem gerundiando: vivendo, mentorando, botecando, estudando, ensinando.
Trago leituras, práticas e Clube do Livro para quem quer pensar novos moldes de vida e de carreira e sabe que pausar é o único jeito de continuar em movimento.
Ah, essa lição, aprendi com muita força depois de passar por um burnout e faço questão de levar adiante.
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