Não era a minha ideia escrever sobre isso nesta semana, mas eu não criei a Descarrego à toa, né? Criei para deixar fluir por mim as ideias que supostamente precisavam chegar até você agora, não em outro momento.
Esse conceito está em muitos livros sobre criatividade, tipo “A Grande Magia”, acho bonito pensar que sou um instrumento para as palavras certas atingirem seus receptáculos e provocarem algo de bom… Vejamos.
Falar sobre o burn-out ainda é algo que doso muito; a ferida está aberta. Mas já consigo ver com alguma clareza mudanças importantes na minha hierarquia de valores e atitudes depois daquele inferno. Achei honesto dividir com você que eu mais desaprendi coisas que aprendi - o que dá na mesma só que do avesso?! rs.
Bem, esse desejo de expressar o desajuste com o mundo acelerado e cheio de picuinhas provavelmente nasceu da minha dedicação atual ao projeto DESENCAIXA CLUBE. Gente, não é à toa que depois de tanta revolução eu esteja justamente criando uma comunidade que misture acolhimento, evolução profissional e pessoal e repertório: eu precisava mergulhar na realidade que quero para mim e viabilizar isso para mais gente; fazer dessa obsessão meu trabalho e minha paixão atuais.
Sabe o que eu quero para as desencaixadas? Que sejamos cola para os caquinhos de cada uma, que eu possa nortear esse grupo com o que tenho de melhor e fazer cada pessoa brilhar à sua maneira.
Tá virando isso, vai sair logo, agora só te convido a colocar seu e-mail na lista de espera para eu saber que te interessa em potencial.
O modelo será de assinatura, e vai ter conteúdo, conexões, oportunidades e amor.
Ai, ai… Agora vamos para o texto da semana?
Compartilha com quem precisar, me conta se bater aí. Fiz com a sinceridade de sempre.
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Descarrego #31 | O que desaprendi com o burn-out
Já me perguntaram bastante o que aprendi com o burn-out.
Mas, conforme o tempo vai passando e os caquinhos de mim que restaram pós-crise vão colando, começo a achar que o que tenho de mais interessante a oferecer não é o que aprendi e sim o que desaprendi com o burn-out.
Quem já passou por alguma espécie de surto deve entender melhor o que quero dizer: quando você explode, o que havia de concreto se espalha e nem tudo volta ao suposto “devido lugar”.
Os pedacinhos da identidade ficam disformes, não se encaixam mais, muitos se perdem para sempre.
As crenças, as cores, as memórias que esses cacos carregavam ficam, assim, disformes e embaçadas. Com as semanas e os meses, reconfiguram-se e renascem diferentes, até irreconhecíveis.
Às vezes renascemos diferentes, até irreconhecíveis.
Não necessariamente o resultado dessa colagem identitária é pior, mas certamente fica diferente.
Isso porque as memórias são - e a ciência já se debruçou muito sobre - fragmentos de lembranças cujas lacunas são preenchidas por um misto de imaginação e experiência presente no cérebro. A memória não é objetiva como supomos.
Portanto, sob certa perspectiva, a memória pré-crise é tão verdadeira quanto a nova. Ambas, criativas e carregadas de enxertos circunstanciais do que de fatos puríssimos.
O mesmo vale para as crenças antigas que são substituídas por novas ou para as sensações cravadas no nosso corpo, capazes de ganhar nuances surpreendentes depois de um grande trauma.
Ter uma quebra psicológica como um burn-out ou outro evento traumático acaba por romper com uma parte do “eu” anterior e faz a gente desaprender coisas para encontrar novas que façam sentido.
Logo, ter uma quebra psicológica como um burn-out ou outro evento traumático acaba por romper com uma parte do “eu” anterior e faz a gente desaprender coisas para encontrar novas que façam sentido.
É menos voluntário do que as palestras motivacionais fazem parecer. Geralmente, o desconforto é visceral, meio que não há opção senão mudar e se arriscar. A força de vontade vem depois do impulso inicial de se reconhecer novamente e aterrissar no mundo com a nova “roupa” que lhe cabe.
Há dor nessa mudança; há também a empolgação da (re)descoberta.
Eu, por exemplo, desacelerei. Não quis, não escolhi, só aconteceu.
Ou seja, desaprendi a produzir sem freios.
Depois dos eventos do burn-out, mesmo quando meu cérebro está a mil, meu corpo não acompanha, o que me fez desaprender o modo pilhado de andar, emendar tarefas, tagarelar. Ainda falo muito, escrevo depressa, tenho muitas ideias? Opa, mas penso muito mais do que realizo porque a energia de realizar correspondente significaria voltar a uma pessoa e a um mundo que morreram no fatídico período crítico.
A ressurreição daquela mulher, idêntica, equivaleria a desenterrar fantasmas perigosos, letais. Deixe-ir, eis a lição. Abrace o novo.
Deixe-ir, eis a lição. Abrace o novo.
A externalização perene da minha aceleração mental foi desaprendida com sucesso! O jeito mais tranquilo fora acaba por acalmar o cérebro e dar corpo e espaço aos silêncios.
Desaprendi a desobedecer meu corpo.
Passei a respeitar muito mais o que chamam de “bateria social”. Nem sempre é bom, porque me tornei uma furona de mão cheia (ou vazia…), e isso não é a melhor forma de agradar as pessoas. Porém, meu corpo não só pede para não ir: ele grita, berra, só me resta dizer amém.
Ele sabe que eu ainda sou uma esponja emocional e que o custo pode ser mais alto do que aguento. Sabe que por mais de 20 anos tentei ignorar esse traço. Sabe melhor do que ninguém o preço que paguei. Então… então sucumbi aos seus caprichos e avisei os amigos sobre meu novo modus operandi.
Impressionante como os verdadeiros entendem e acolhem.
Até por isso…
Desaprendi a continuar relações abusivas, mesmo que sutilmente abusivas. Continuo a demorar para ver se estiver apegada demais, mas o medo de me queimar como me queimei e não conseguir ressurgir Fênix de novo é maior. Não quero mais brincar com certos fogos. Está cheio de gente para criticar com aquela maldade mascarada, para errar e depois nos encher de desculpa, para ativar os botõezinhos de trauma. Por que escolher essa gente e não as outras?
Então, desaprendi a ânsia de me explicar antes de me afastar. “Vá! Desejo sorte e desejo que me esqueça”: é um dos meus mantras, use à vontade.
Desaprendi ainda a me culpar tanto por oscilar.
É tão natural que mudemos de humor, ideia, objetivo. Desaprender a ideia de linearidade, ou desapegar um pouco mais dela, tirou muitos quilos de peso mental daqui! Sempre fui de mudar e me reinventar, desistir e recomeçar sem tanto medo; hoje tenho mais medo, mas não perdi o ímpeto. O que perdi foi a culpa por não me contentar com algo que não me encante. E quem não se contenta, oscila.
Perdi a culpa por não me contentar com algo que não me encante. Quem não se contenta com tudo, oscila mais. Desiste e recomeça, mesmo que com mais medo do que antes.
Desaprendi muito do que achava que seria, e do que seria bem-sucedido ser, saca? Aprendi que saúde e paciência são as maiores bênçãos que posso cultivar para conseguir viver um dia de cada vez reaprendendo a ser eu, mesmo que uma nova eu. O bem-sucedida precisa ter um novo ritmo que se sustente sobre esses pilares.
Desaprendi a ser a velha eu, acho que é isso. Aprendi que ser eu é algo que já desconfiava: um contínuo de encaixes e desencaixes alimentados por experiências, pessoas, músicas, livros, flores, barulho de chuva, sol na cabeça, dias de paz, dias de luta…
Desaprendi a me fixar e aprendi que o meu porto seguro é a minha rotina de senhora misturada a uma boemia nem tão boêmia. É aprender todo dia, ter pouquíssimos e bons por perto e comunicar, sempre me comunicar de forma a auxiliar quem puder.
Engraçado com essa bateria não se esgotou. Por isso, estou aqui escrevendo, falando, criando projeto e enfrentando os receios de uma Bruna que se sabe agora não invencível.
O mais paradoxal é que tudo o que desaprendi, inclusive isso de ser rir de quem se acha invencível, fez a cola dos caquinhos colar mais forte e criar uma figura mais interessante que antes. Pelo menos aos meus olhos, me deixa rs.
Essa pessoa cheia de cicatrizes, mais robusta, torta, não cabe em muitos lugares, mas tem um grupo de conhecidas, ou ilustres desconhecidas, para chamar de suas amigas, seus pares, seus iguais.
Essa pessoa cheia de cicatrizes, mais robusta, torta, não cabe em muitos lugares, mas tem um grupo de conhecidas, ou ilustres desconhecidas, para chamar de suas amigas, seus pares, seus iguais.
Quando falo “desencaixadas, uni-vos”, muitas vezes é disso que estou falando.
Cada uma se junta com os caquinhos da outras e, unidas, construímos uma fortaleza que segura. Balança mas não cai.
Desaprendi o que achava que era ser sozinha e aprendi que existe uma “solidão coletiva” monumental para ser aglomerada. A liga dela: reaprender tudo sem cinismo nem arrogância, pertencer e dividir.
Quem já foi para o inferno volta com a humildade de não tentar saber o sexo dos anjos.
Quem já caiu e voltou, volta com inesperadas telas em branco - pura arte, pura vontade de desaprender, pura vontade de viver.
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Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por quase 20 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Estou lançando em breve a nova Desencaixa Clube e a lista de espera para ele já está aqui.
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