Hoje, minha cara, quero te dizer que não precisamos de tanta "tistreza" só por que o ano oficialmente começou.
Talvez sejam os nossos moldes de felicidade, tão desprovidos de carnavalização e paixão no dia a dia, que nos deixem meio murchinhas.
Precisa ser assim?
Spoiler: a news de hoje é uma espécie de continuação da anterior. Um olhar generoso com as nossas loucuras e com a nossa natureza "selvagem".
Vem comigo.
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Descarrego #9 | Ame o seu caos
Descobrir músculos que nem sabia que tinha.
Lembrar a data de nascimento graças à dor na lombar.
Tentar entender por que raios brotou esse torcicolo.
Calcular manchas roxas enigmáticas pelo corpo.
Esboçar um sorriso bobo quando algo vem à memória.
Ou um meio constrangido dependendo do que ela trouxer.
Pode ser a descrição de se apaixonar, mergulhar naquela orgia sem problematização que a gente deveria ser permitir tão mais do que por três meses...
Mas também descreve a dor física do vazio pós-carnaval, aquilo que aqui no Brasil a gente chama de "o ano começou". Ressaca monstruosa por ter vivido a paixonite mais fervorosa que esse país nos proporciona antes de nos arremessar para uma duríssima realidade.
Opa, a gente reconhece, sabe quão bom é ter a licença para enlouquecer em praça pública, tomar chuva sem receio de parecer insano, desavergonhar nos trajes, nas atitudes, na voz.
Como é bom enlouquecer em praça pública, tomar chuva sem receio de parecer insano, desavergonhar nos trajes, nas atitudes, na voz
Mesmo quem não é dos mais carnavalescos se beneficia da festa popular. Aproveita fevereiro e abre alas para o descanso passar, as coisas boas se instalarem e deixar virem outras extraordinárias fontes de dores nas costas, no ciático e em outros pontos que não carece detalhar.
Toda dor esconde uma pontinha de prazer, o poeta traduziu bem o deleite intrínseco à dor - no caso aqui, a de viver intensamente um carnaval tão almejado, enfim respirado em conjunto e sem máscaras... mas saber que ele teria seu fim.
O carnaval, a paixão, assim como as dores e as lembranças se esmaecem, se vão.
Talvez a pergunta mais relevante seja o que vai ser de nós depois desse adeus?
A vida adulta, ah, essa rabugenta nos convida a enquadrar a rotina de um jeito que barra a carnavalização, ou a enche de culpas, medos, inadequações.
Somos, como espécie genuinamente adepta dos delírios, sedentos por escapes, atraídos por abraços, amassos, danças, exageros, rituais e boas histórias para contar
Como se nós, humanos, não fôssemos genuinamente adeptos dos delírios, sedentos por escapes, atraídos por abraços, amassos, danças, exageros, rituais e boas histórias para contar.
As fogueiras dos nossos ancestrais contando seus "causos" do dia e talvez degustando uma ervinha para atiçar a imaginação.
A dança sincronizada para celebrar as passagens.
As muitas maneiras de amar, lutar, sobreviver.
As mudanças constantes porque, sabemos, somos nômades muito antes de alguém colocar o termo "digital" na frente disso como se fosse um traço moderno, ou pós-moderno.
Somos por natureza errantes, vagamundos, andantes, exploradores, inquietos. Nos primórdios era por necessidade, alguém pode argumentar. Agora também, uma nova necessidade: a ânsia humana por movimento é interna, externa e gravada em cada um.
Não está; ela é.
A ânsia humana por movimento não está; ela é
Nosso pouso possível somos nós mesmos e os nossos. Nossa casa sempre foi a caminhada, a descoberta e quem topamos no bloquinho das savanas da vida.
Eu sei, o trabalho está ali te esperando, o crachá olhando feio para sua cara. As mensagens já se multiplicaram, as metas impossíveis estão delegadas…
O pavor com as demissões na sala ao lado não deixa de tomar seus sonhos nessas noites de verão, deixando os elfos, as ninfas e os apaixonados encantados de Shakespeare a léguas do seu momento onírico.
A natureza que te chama é a das tragédias esfregadas no nariz que arrancam lágrimas e machucam o peito - isso se você ainda for um de nós, humanos, mesmo diante da toada que robotizou nossa vida e nos convenceu de que só há um modelo de ser bem-sucedido e feliz.
Acabou, carnaval, hora de "voltar à realidade" e à carga que a rotina traz.
O carnaval e seu pós acabaram. Ou começam agora que você está aí se fantasiando de algo que não é para viver uma vida que no fundo sabe que não quer? Caíram as máscaras ou é hora de colocá-las?
Acabou o pós-carnaval. E aí: caíram as máscaras ou é hora de colocá-las?
Se o ano está começando agora, desejo que você tenha fantasias, no plural, e as realize, de cara limpa.
Que trabalhe sem o embalo da marchinha enfadonha que soa datada.
Que beije as bocas que quiser, no singular ou no plural, e que ria, sorria, gargalhe e faça poses ridículas com os amigos para juntos criarem memórias e roxos e dores musculares dignos de nota.
Que a dicotomia felicidade versus vida fora dos feriados deixe de fazer sentido.
Que venha 2023, pois então, com um vislumbre menos cartesiano, porque nossa natureza tem muito de caos.
Caos que, se aceitarmos e abraçarmos como nosso, introjeta uma "alegria fulgaz", como cantou Chico Buarque. Fulgaz, porém capaz de se infiltrar intrépida nos intervalinhos cinzentos do dia e mudar t-u-d-o.
A ordem e o caos não são antagônicos, coexistem desde que o mundo é mundo. Chega de brigar com eles, melhor abraçar um de cada lado e sambar a três até dar cãibra na panturrilha!
A ordem e o caos não são antagônicos, coexistem desde que o mundo é mundo. Chega de brigar com eles, melhor abraçar um de cada lado e sambar a três até dar cãibra na panturrilha!
Aliás, nos abracemos inteiras, aquele abraço apertado de quem (se) aceita e quer bem, sabe?
É você todinha que vai viver esse ano e olha como vai bem acompanhada! Cambaleia se precisar, pisa devagar, corre, se alonga, mas leve a si mesma com uma trilha sonora bem solar!
Só queria te lembrar: vai carnaval, vem carnaval e você nunca, nunca anda só.
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Um caos solar no Repertório
UM FILME
"Capitão Fantástico", filme de 2016 muito aclamado pela crítica à época, está aqui indicado porque leva a repensar a forma como vivemos como “a” única, “a” certa. Trata de um pai que cria seus filhos num sistema totalmente à parte do que estamos acostumados como sociedade, com disciplina e conflitos que vão aflorando ao longo da trama. Eles acabam tendo que se reintegrar ao "normal" e claro que isso traz risadas e emoções que dão um quentinho no coração.
UMA ALEGRIA NO VESTIR
Se a ideia é manter a energia, a cor e o élan carnavalesco no dia a dia, por que não deixar um toquezinho disso no look, hã? Quero indicar 3 preciosidades que uso o ano todo porque, pra mim, brilho é básico rs. 1) A volta da marca de sapatos e bolsas Louloux! Soube nessa semana e já estou aqui indicando porque é brasileira, criativa e perfeita para quem quer desencaixar mesmo! 2) A Paeteh, marca que conheci quando ainda morava no centro de SP e que me pegou pelos quimonos paetizados. Tenho mais de um e adoro pra dar pinta numa festa assim, basiquinha! Também viram vestidos com um cinto, e o preço é justo! 3) Em termos de maquiagem, indico a Linha Bruna Tavares não é de hoje, mas quero reforçar porque a qualidade é demais. Tenho muitas sombras Velvet coloridas e uso na pálpebra toda ou com um pincel fininho fazendo as vezes de delineador. Fora que a Bruna é uma pessoa que tive a sorte de conhecer há tempos e admiro pela generosidade e pela marca pessoal poderosa que delineou ao longo do crescimento do negócio.
UM LIVRO (DOIS, VAI)
Ler "Sonho de Uma Noite de Verão", de Shakespeare: gostoso demais! É breve, é encantador, é fábula, é sobre amor e sempre é atual. Li pela primeira vez novinha, pré-adolescente e foi uma daquelas obras que deixam imagens claríssimas na mente para sempre. Você merece isso mesmo hoje na sua idade, vai por mim. Releia se for o caso. Desendureça essa mente pós-carnaval que vai te fazer bem, minha ninfa!
E uma indicação óbvia, mas excelente é "Homo Sapiens" - o meu preferido do Yuval Noah Harari na real é "Homo Deus", mas estou indicando o mais conhecido dele porque delineia deliciosamente sobre o nosso lado ancestral, enquanto propões reflexões pertinentes e provocações. Não se assuste com o tamanho: a leitura flui, prometo!
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Reticências
“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”
William Shakespeare“O homem é menos ele mesmo quando fala na sua própria pessoa. Dê-lhe uma máscara e ele dirá a verdade.”
Oscar Wilde
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Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai. Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso na prática no projeto Desencaixa, que hoje é uma mentoria. Pra dividir com mais gente a minha escrita e os meus desencaixes, faço esse Descarrego semanal! E no Insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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