Sua vida é seu bastidor.
Não que aquilo que expressamos como personas digitais seja desprovido de importância. É que ali estamos recortando a nossa experiência para apresentar da melhor maneira que julgamos, seja para compartilhar com amigos, seja para elevar nossa carreira.
Longe do Big Brother que fazemos da nossa vida diária, ali… no choro escondido no banheiro, na risada que brota com uma reminiscência amorosa, ali está a vida que só você detém e só você lembrará. Mistério para 100% das pessoas que não são você.
Incluo neste bastidor pensamentos, devaneios, sonhos, vivências a quatro paredes e umas tantas sinapses que são exclusivamente nossas.
Deveríamos valorizar mais isso.
É, para mim, o equivalente a desfrutar a própria companhia - esse sentimento que ameaça ficar ultrapassado se não for corrompido com a postagem de algo que o registre, não para si, mas para os outros. Mesmo quem defende esses momentos, como eu, vira-e-mexe se contradiz e compartilha mais do que queria, via escapes emocionais que encontram um celular à mão.
Estamos perdoados, tudo nos empurra para a indiscrição, mas podemos nos esforçar para preservar o que é só nosso.
Não revelar segredos faz parte de se conectar consigo mesmo.
Aquilo que é só seu pode ser uma fonte inesgotável de poder. Considere a convicção interna de que algo bom vai acontecer, mesmo diante da mais deplorável situação: se dividida com mais gente, essa crença há de parecer ingênua, insana, mística ou até prepotente, mas quem além de você deveria opinar sobre isso? Uma certeza dessas deve ser alimentada como um tesouro, não importa a fonte da qual brote, o que vale é o que a fé faz por você no dia a dia. Agrega esperança, motiva a se levantar, nutre a autoconfiança e por aí vai. É sua e ninguém tasca. Não deixe que tasquem.
Como sempre digo, escrevo aqui para mim mesma e para você.
Estou há meses fazendo meus trabalhos de formiguinha no bastidor e experimentando guardá-los só para mim, não por medo da inveja ou algo do gênero, apenas pelo desejo de saborear o meu momento de (re)acreditar em mim. A fim de também me dar o prazo necessário para experimentar meus novos limites e ritmos, compromisso de mim comigo mesma. É um gesto de autopreservação, um olhar de autocuidado e um treino de autoeficácia.
O medo de falhar e fé em prosperar, o paradoxo entre esses e outros sentimentos, deixo para mim e o meu travesseiro - exceto neste momento, no qual me permito pincelar genericamente uma pílula do que a minha vida de bastidor me tem ensinado.
Meu segredo comigo mesma, um dos infinitos que adoro ter desde criancinha, merece ser guardado a sete chaves para que o produto dele ganhe o mundo na hora certa. E, se não ganhar, terá sido meu segredo também. O tal “o que eu ganho, o que eu perco, ninguém precisa saber…”, do Lulu Santos.
Preservar mais bastidores, pense nisso como uma maneira de se permitir também testar, ousar, falhar. Sorver o fel da derrota, parte inseparável da experiência humana que parece tão pouco apetecer ouvidos acostumados a relatos de sucesso.
Nem todo livro merece ser indicado.
Nem todo encontro carece de registro.
Nem todo conhecimento precisa ser útil.
Nem toda alegria precisa ser compartilhada, bem como nem toda tristeza precisa sair do seu quadrado.
Manter alguma parte do bastidor intacto significa exercitar a autonomia e, por conseguinte, praticar um pouco a liberdade de não estar tão disponível nem parecer tão transparente. Para muitos fins, convém ser um pouco translúcido, sabe?
Um mistério, ah, ajuda a conquistar - o outro e a própria confiança.
Experimente - sem contar para ninguém.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e posicionamento digital com foco na carreira, além de dar palestras, treinamentos e cursos para empresas.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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a delicadeza crua destas linhas me cutucou do lado de cá.