A vida fala com a gente o tempo todo.
A frase pode não ser exatamente nova, mas já parou para ouvi-la de verdade, falando contigo uma vez mais em velhos timbres e talvez inéditas situações?
Eu parei para absorver as palavras das sócias do Fe-Male Movement, num evento no fim de semana*. Aquilo me fez pensar se eu, se você, se nós estamos fazendo a nossa parte nessa comunicação vital.
Comunica-ação
Aula 1 do curso de Jornalismo: comunicar é ida e volta.
Se você se comporta como apenas um "receptor" ou tem um, não chegou lá; é preciso receber ou dar retorno (o feedback) para a ligação acontecer. Ouvir e ser ouvido, estabelecer um laço, eis o que de fato interessa e floresce.
Por isso, a vida fala com a gente o tempo todo, mas não consegue se comunicar sempre. Para muitos de nós, quase nunca.
Seria preciso nos letrar na sua linguagem, simbólica por excelência. Refletir sobre o que ouvimos, decifrar as entrelinhas. Preparar alguma devolutiva para o que nos apresentou em forma de (re)ação.
Além de sermos mais ativos falar com a vida nos termos dela e atentar para o que nos devolveria, sua sabedoria de maneiras improváveis.
Tudo isso bem tangível, se você pensar. Conhecemos mil e uma histórias desse vaivém. Os sinais, as coincidências, a serendipidade, a sorte, o azar, o reencontro, o desencontro, as sincronias, os tropeços, os atrasos, os insights e tantas outras pequenezas que mudam os cursos das coisas sem que necessariamente tenhamos reconhecido sua interferência imediatamente.
Reconhecer
O drama é que parecemos estar com fones abafando os sons, vendas ocultando a visão, camadas nos "protegendo" de sentir arrepio na pele. vagamos com os sentidos entorpecidos demais para nos comunicar com a vida dentro e fora, e aí caçoamos da letra do Alceu Valença, porque não escutamos os sinais de nada nem de ninguém que vem ou vai brincar no nosso quintal...
Curioso, na minha opinião, com tantos misticismos, rituais e crenças desenterrados ou adorados no mundo contemporâneo.
Curioso, ainda mais, pensar que tanta ode ao autocuidado e ao transcendente pode estar sendo emulada para a ordem do “parecer” e não do “ser”. Uma procura apressada pelo desconhecido que, inevitavelmente, chega apenas às águas rasas do conhecido.
Respostas prontas, rótulos ocos, clichês reproduzidos - há aos montes por aí.
Emprestando a genialidade do Chico, ouso dizer que "danem-se os astros, os livros, os dogmas..." e tudo mais se não estivermos de fato mergulhando na comunicação que essas práticas, ao menos na teoria e na origem, propõem. Sem ação, viram palavras vazias, símbolos desprovidos de simbolismo.
Tanta gente por aí adora se chamar de bruxa, consulta tarô, curte um mapa astral, usa amuleto de cristal, frequenta igreja, centro, retiro ou sei lá o quê e assim que volta para o dia a dia põe a capa protetora para a vida real - essa que é sentida se dermos uma chance a ela.
Nem pensar sair deprovida de sua couraça (olá, Gaiarsa)! Os traumas ficam retesados sem se comunicar conosco, e a mente tende a passear pelo que é miúdo, mesquinho mesmo.
Não digo isso para que nos culpemos. Sempre venho lembrar que o sistema, o modo de vida contemporâneo, nos empurra para a aceleração estéril e o distanciamento da vida em si.
O hoje vira um "não lugar" incômodo, que se tudo der certo, deve passar despercebido.
Um dia bom
Um dia bom seria aquele sem cutucões da natureza, sem energias pesadas, sem surpresas... SEM. Transcorrido conforme o planejado.
Que besteira! A vida acontece cutucando, sacolejando, surpreendendo, pesando, “gerundiando” para então nos deixar ter a leveza de, vez ou outra, flutuar e reconhecer cada ensinamento que valeu a pena.
Às vezes o flutuar dura dias, minutos, segundos. Notas de sublime que só podem ser sorvidas se estivermos sentindo tudo dentro e ao redor no presente.
Não tem ontem que não ensine e amanhã que não inspire, ou amedronte. Ambos, obviamente, provocam fortes emoções. No entanto, são poeira se comparados à intensidade do que a comunicação verdadeira pode gerar no aqui-agora.
O presente é mais porque é tudo. Tudo o que temos.
O tempo que escorre pelas mãos podia ser mais bem peneirado se nos comunicássemos com a vida e seus sinais diariamente. Com a prática, as falas passam a ser mais generosas; e nós, mais hábeis em recebê-las e criar presentes desejáveis (os futuros são feitos deles).
Eu, lírio
Tenho a benesse de ser mais treinada que muitos no simbólico.
Sou jornalista, meu trabalho é branding pessoal - emoção, pessoas e comunicação puras - e sou sensível feito um lírio da paz sem água por um dia.
Já murchei muito. Também como a planta sedenta me descobri resiliente, até antifrágil. O segredo, fui entendendo, está em me abastecer do que preciso e aprender a reter ou sintetizar minhas forças de acordo com as mudanças de clima.
Falo com propriedade do lírio da paz, o vaso mais antigo que tenho em casa, plantado há muitos anos pelas mãos férteis da minha mãe.
Ah, falo com propriedade sobre mim. Fui e continuo a ir atrás incessantemente dos meus símbolos, sinais, couraças e encruzilhadas. Tento humildemente no paralelo traduzir o javanês da vida em sonhos enormes, objetos e situações que me aparecem, separando o joio do trigo e escutando, com muitos ruídos às vezes.
Porque assim são a vida e as suas falas: podem vir cifradas. Só fazem sentido se a gente se concentra em suas ondas e se movimenta com elas.
Definitivamente, não me considero a mais mística das criaturas. Nem preciso.
Todos somos munidos naturalmente de capacidade de nos comunicar com a vida, porque somos o quê?
Você, vida
Você, o que ouviu hoje da vida e o que falou para ela? Hoje, agora. São muitas palavras aqui, mas você nem precisa delas para entender, o repertório é de outra natureza - a sua.
Comunica e me conta.
Melhor. Conta pra si mesma, conta pra vida que ela responde.
...
*Fui longe? Se quiser ir também, sugiro acompanhar Ligia Zotini , Tânia Zacharias e Fabíola Carvalho que inspiraram arquitetos, designers e eu euzinha no Summit: A Era da Integração, by Roca Cerâmica.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e posicionamento digital com foco na carreira, além de dar palestras, treinamentos e cursos para empresas.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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