Então é Natal, e o que… o que nada, nem vem!
O texto de hoje é para te falar de um cara que você conhece bem, o agiota mental que fica ativíssimo nessa época do ano.
Me conta se vc conhece bem esse cara?!?
beijo enorme, Bru
… Para falar comigo, orçar palestras ou trocar sobre projetos e colaborações especiais só responder este e-mail ou escrever para bruna@brufioreti.com.br
… Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #41 | Vc se sente devendo?
Há quem ame, há quem odeie, mas há um consenso de que o fim do ano - e o consequente começo de outro - traz a incômoda sensação de não ter realizado tudo o que podia ou devia nos meses anteriores.
Começam as propagandas do Papai Noel, toca uma Simone na loja ao lado e pronto: “o que você fez?”. Sussurra no nosso ouvido o elixir para a voz tóxica que vive na nossa cabeça. A cobrança posterior vem muitos decibéis acima.
Um fenômeno de fim de ano, ainda mais neste que vem com calda, recheio e temperatura de fim de mundo (perdão, mas o meme é bom demais).
Met… cobranças de ano novo
Por mais que muitos de nós convivamos com essa sensação de dívida constante consiga mesmo e com os afazeres da vida, os marcos estão aí para agravar a sensação.
Escancara-se o que não foi ticado da lista.
Voltou para o inglês?
Conseguiu firmar na academia?
Fez aquele projeto paralelo com a amiga?
Aprendeu a postar na rede social que prometeu?
Manteve a casa limpa?
Tomou água direitinho?
Largou do traste?
Limpou o quartinho da bagunça? Ou o guarda-roupa, que seja?
Viu os filmes atrasados?
Leu quantos livros mesmo?
Os exames, conseguiu deixar em dia?
Aquilo de viajar uma, duas vezes por ano… flopou?
Entrou para a pós?
Foi promovida?
Encontrou as amigas todo mês?
Finalmente largou o emprego?
Gente, eu poderia listar horas as cobranças absurdas que ouço de tanta gente - e faço para mim mesma - e deixar a lista ainda maior só para te mostrar o óbvio: é humanamente impossível cumprir tudo o que a gente deseja em um ano.
Para começo de conversa, é um problema metodológico: as metas de ano novo deveriam ser uma lista minimalista de desejos a serem cumpridos, sei lá, nos próximos 5 anos. Muito menos itens, muito mais generosos os prazos.
E estaria ótimo, realista!
Reitero, teria ter ter cinco vezes menos o tamanho do que você, eu e todo mundo costuma fazer.
Sem coach de fim de ano
“Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?” Aaaah, me poupa, vai? Quando alguém vier te “coachear” com uma dessas, ignora ou relata o combo de atividades do seu dia lembrando que dormir muitas horas é hoje, comprovadamente, UMA senão A atividade mais importante para a saúde.
Se você cumprir o desejo de dormir mais em 2024 quantas vezes conseguir, fica meu parabéns sincero aqui. Acredite: que belo não trabalho!
Cuidado para a pressão alheia não contaminar a sua já suada paz. Conselhos de hiperrealizadores soam motivadores num dia, depois se tornam veneno mental. Essas pessoas ou falam e não fazem; ou fazem e vão surtar; ou fazem, estão surtadas e não vão te contar.
Algum pratinho estão deixando cair, ah estão! Se demais no trabalho, a família está sendo negligenciada; ou o contrário. Não nas aparências, que podem ser sensacionais, mas em qualidade. Não estou falando mal desses seres superprodutivos, fui um deles quase a minha vida toda, é que muitas vezes eles estão míopes para as consequências.
O que aprendi? E muitos por aí?
A vida não é uma competição. Nem consigo mesmo.
A vida não é uma maratona para performar mais e melhor. É para ser vivida mesmo.
A vida não é uma lista de afazeres a acrescentar aos que você já tem. Você muitas vezes precisa é limpar os afazeres para ter mais qualidade em tudo.
A vida provavelmente tem mais a ver com sorver alguma dose de satisfação dentro do que tem e no miolo disso procurar ser feliz com as pequenas coisas.
Ou defina você a vida. Não tenho essa pretensão.
Só vim lembrar que é Natal, e o que você fez ou não ficou no passado. Você tem o hoje - é tudo o que tem - e se tudo der certo um amanhã, cheio de possibilidades, belo no simples e, sim, passível de ter realizações acima da média.
Trabalhemos por elas, se assim quisermos, Melhor: deixemos que as grandes possibilidades trabalhem por nós. Mudemos o foco, mudemos o chefe.
O agiota não quer saber
O agiota que mora na nossa mente está ali intimidante e fortemente armado pronto para nos cobrar pelo que não aconteceu. Ele não quer saber das tarefas de cuidado que você acumula, dos transtornos psíquicos que diminuem drasticamente sua capacidade de produzir e pensar, das dores que passou.
O agiota da mente quer cobrar a conta sem te perguntar onde sua energia, seu dinheiro, seu tempo e seu suor foram gastos.
O inimigo está aí dentro. Aqui dentro.
E não nos esqueçamos que ele é financiado por um sistema altamente interessado na autocobrança excessiva, focado na ilusão da meritocracia e da falsa liberdade plena para trabalhar e “ganhar o seu” e viciado em tirar de cada mais-mais-mais até que sobre uma carcaça entristecida, com menos ou mais dinheiro, mas entristecida.
Um presente de Natal: fechar o agiota numa caixa debaixo da árvore e deixá-lo lá, isolado, enquanto você festeja a vida que tem e a dádiva de ter feito tudo, absolutamente tudo o que conseguiu dentro das suas possibilidades.
Celebrando, acredite em mim, os desejos de ano novo se realizam mais e melhor, porque funcionamos pior com a tensão da arma na cabeça.
Queremos mais e melhor, claro.
Só queremos aprender a reconhecer quando ele vem, mesmo que numa proporção diferente da esperada, num tempo diferente.
Queremos mais e melhor, claro. Mas aceitamos diferente. E aí, sim, pode vir, Natal.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e transição de carreira, em palestras, cursos e na comunidade/escola Desencaixa Clube, voltada para quem curte conexões reais, ampliação de repertório e aprendizagem contínua.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
Essa newsletter é gratuita e sai toda terça. Se quiser compartilhar, vou amar! Só usar o botãozinho abaixo:
Se não assina ainda, tá aqui seu link: