Nem só de acontecimentos noticiáveis se faz uma semana. Às vezes uma noite maldormida traz mais reflexões que tantas conversas, né?
Hoje, é sobre isso aqui.
Me conta se o recado ressoa pra vc também?
beijo enorme, Bru
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Descarrego #40 | Meu gato e eu
Oswaldo acordou pontualmente às quatro da manha e a plenos pulmões fez com que eu soubesse disso.
Das quatro até umas sete, fez tudo o que estava ao seu alcance para que eu saísse da cama. Abriu portas e armários do banheiro e da sala, fechou a porta entreaberta do quarto inúmeras vezes para reclamar em seguida que queria sair. Saltou na cama, em cima de mim, na mesinha lateral, derrubou remédios, Kindle e celular. Pediu água, que já tinha. Comida, idem.
E, todas as vezes que levantei, se jogou no chão com o maior charme do mundo e pediu carinho quietinho perto de duas caixas de papelão que estão “decorando” a sala para seu bel-prazer.
Oswaldo, se você não percebeu ainda, é um gato (essa fofura da foto).
Irmão do Jorge, ambos nascidos na mesma ninhada, oito anos atrás, e adotados por mim depois de a mãe deles morrer atropelada.
Jorge, esse dormia serenamente ao meu lado enquanto o irmão fazia a sinfonia da madrugada.
Eu quis ficar brava, estava grogue de sono finalmente, depois de uma série de noites maldormidas, nas quais, aliás, a dupla felina permaneceu quietinha até oito, nove da manha.
Eu quis dar bronca. Quis ignorar. Quis pensar mal do comportamento do Oswaldo.
Mas não consegui.
Eu sei ler o Oswaldo e o Jorge, sou letrada nos seus comportamentos.
Entendi que brinquei pouco com ambos nos últimos dias, que Oswaldo estava entediado porque descansou além da conta de dia enquanto eu escrevia ou também dormia.
Compreendi que queria sair um pouco do quarto para ganhar atenção na caixa, tão mais interessante, colocada no seu lugar preferido, com brinquedos por perto.
Saquei que ele é um gatinho e que gatos são mais noturnos.
Estão também sujeitos a fases mais tranquilas e mais serelepes e deveras influenciados pelo comportados de seus cuidadores (eu me chamo de mamãe, mas até aí).
Os meus meninos me seguem sempre e querem a minha presença no mesmo cômodo. Estão acostumados a dormir comigo, ficar grudados em mim, conversar comigo em vocalizações que só a gente entende e a ganhar massagem na barriguinha e nos bigodes enquanto a mãe humana canta “Carinhoso” quantas vezes for preciso com uma voz bem aguda.
Aprenderam a chegar bem pertinho, solicitar olho no olho, a se jogar bruscamente para chamar a atenção e a receber visitas com malemolência e miados cheios de borogodó.
Eles são assim, e eu entendo seu comportamento. Não julgo, não me enraiveço, não puno por respeitarem a própria natureza. Entendo meu papel no que pode ser visto como algo inadequado e, de novo, me compadeço deles para dar mais amor, carinho, cuidado.
Por que não sou assim comigo mesma?
Se o Oswaldo merece ser perdoado por sua insônia, por sua manha, por suas manias, por sua inconveniência, por que eu não mereceria?
Se ele pode fazer qualquer coisa sem receber xingamento e, em vez disso, ganhar compreensão e soluções cheias de afeto, por que eu não posso merecer a mesma condescendência?
Eu jamais falaria com ele ou com o irmãozinho como falo comigo mesma mentalmente - aliás nem com familiares, amigos…
Entendo que são seres vivos, passíveis de erros, tentando ser amados, vistos, aceitos, seguindo seus instintos, com dificuldades de expressar o que sentem. Por que comigo mesma sou tão dura, cruel e me puno mentalmente a cada deslize?
Será que eu amo mais meus gatos que a mim mesma?
Não é simples assim, mas a reflexão, por mais pueril que possa parecer, a mim me parece pertinentíssima.
Será que meus meninos estão na minha vida para me ajudar a entender que eu mereço o mais puro, genuíno amor, assim como o que sou capaz de dar? E me lembrar o que eu mesma sempre disse: que amor envolve perdão, paciência, desprendimento, aceitação, colo?
E que me permitir entrar no rol de pessoas amadas e amáveis, nada disso invalidaria minha capacidade de realizar, ter senso crítico, evoluir?
Ser humana, ser um gato, ser um ser vivo não devia ser suficiente?
Neste minuto, Oswaldo está dormindo profundamente na minha frente, e eu olho para ele com um carinho imenso, um sorriso nos lábios. Não vou ali forçá-lo a acordar. Vou respeitar o momento dele.
E, decidi, aprender a respeitar o meu.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e transição de carreira, em palestras, cursos e na comunidade/escola Desencaixa Clube, voltada para quem curte conexões reais, ampliação de repertório e aprendizagem contínua.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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