Umas horinhas atrasadas, porque essa saiu do fundo do baú!
Que o meu abrir de coração, e como vejo as mudanças estruturais da minha carreira até aqui, possam te inspirar a refletir sobre a sua. E deixar o novo vir!
beijo enorme, Bru
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Descarrego #39 | O que vc quer ser?
O que você escolheria se o vestibular fosse hoje?
O curso que escolheu ainda faz sentido?
Ou queria um outro que jamais cogitaria há 30, 20, 10 anos?
Talvez você tenha revisitado essa questão muitas vezes e, talvez, assim como eu, tenho pensado até hoje que faria exatamente a mesma graduação no mesmo lugar com as mesmíssimas dificuldades e os mesmos deleites, porque “isso tudo te trouxe até aqui".
Uso meu exemplo.
Fiz Jornalismo na Unesp, em Bauru, um dos períodos mais espetaculares e mais doloridos da minha vida. Certamente, a época em que mais amadureci intelectualmente; cada livro, cada filme, cada conversa mudou tudo para mim e sou imensamente grata pelos anos que passei (também calor rs) ali.
Ah, preferiria ter enfrentado menos dificuldades, acho que ficaria menos desconfiada da boa-fé alheia.
Preferiria saber mais sobre o funcionamento peculiar do meu cérebro, para me aceitar mais em tantos desencaixes que não compreendia.
Preferiria ainda que alguém me desse um spoiler do que conquistaria anos depois para confiar mais em mim e me achar menos “caipira” e menos enredada na antimeritocracia - a mesma que tentava burlar ganhando bolsas de estudo, estudando muito, sendo aquela que ensinava os outros para ser aceita e, mais tarde, passando em universidade pública, ganhando de novo bolsa de estudos científica, mais bolsa em trainee no Estadão e por aí vai.
Uma máquina inteligente capaz de pisotear o sistema e ocupar lugares nos quais gente de origem pobre não era bem-vinda. Não, eu não era uma máquina…
Cada microvitória dessas trazia uma avalanche de cobranças pessoais e um nó na garganta que consigo sentir agora enquanto conto pra você.
Trouxe sequelas também, mas isso é papo para outro dia.
De fato, o que descrevi acima também me fez quem sou. Amarga e doce; dura e macia; crítica e esperançosa; sempre pronta para dar um lado B da história mas também para oferecer colo e uma boa ideia. Um paradoxo, um desencaixe, uma metamorfose ambulante.
A juventude resiliente
Aquela menina com o “r” inconveniente para as redações de São Paulo (o poRta do interior de SP) persistiu esbanjando confiança em público e chorando no bastidor sem entender exatamente por quê.
Era profundamente engajada na vida - jovem, né?
Caía e levantava rápido. Enxugava as lágrimas com a mesma rapidez que pensava em pautas novas e escrevia textos no modo pastelaria se necessário fosse. Seguia feito um trator, não se permitindo escorregar nas cascas de bananas deixadas estrategicamente à sua porta.
Euzinha, morrendo de medo sem parar de caminhar, de correr.
Talvez fizesse isso até hoje porque me representa muito bem a cachaça que é o jornalismo e a convivência entre jornalistas. Disso, tenho saudade. Mas que pernas aguentam correr tanto sem parar e sem uma mão para oferecer água?
Eu faria isso pra sempre se pudesse. E sabia.
Mas não fiz.
Muito aconteceu de 2017, quando escolhi convicta e feliz deixar a redação da revista Glamour, até hoje, quando trabalho solo com branding pessoal e repertório e continuo a comunicar, escrever, palestrar.
O mais relevante foi que, enfim, respirei.
Eu me libertei da necessidade de estar conectada o tempo todo e saber cada acontecimento do mundo todo dia. E gostei.
Notícia ou esperança?
Hoje, com 41 anos, provavelmente não escolheria o jornalismo, apesar de amá-lo profundamente. Parece daqui um ex tóxico do qual preciso manter uma distância segura, sob pena de o abuso voltar.
Em algum momento de 2013 para cá, passei a fugir de notícia sempre que possível; a escalada de informações quentes passou a torrar o meu cérebro - minto, passou é a macular a minha esperança.
O mundo piorou ou eu que fiquei sensível demais? Nem pretendo responder.
Mas chorar vendo telejornal e ficar raivosa além da conta lendo uma reportagem eram coisas das quais eu voltava em dois palitos antigamente; dormia como um bebê mesmo depois das coberturas mais escabrosas feitas in loco por mim ou outrem.
Hoje, uma imagem pode afetar o dia todo e tirar meu sono.
Trabalhei como jornalista pelo menos 17 anos ininterruptamente, vi bastidor demais para me fingir de mera espectadora agora. Nem isso quero ser demais!
Não vejo essas reflexões como derrota. A gente muda, o mundo muda. Sou jornalista, talvez antes de me formar na Unesp.
Mas hoje escolho não estar jornalista quando possível, porque esse é um mundo que estou digerindo antes de notar… de noticiar. Neste espaço, no caso, quero refletir em palavras muito do que está aqui dentro e lá fora, mas sem o compromisso da pressa e da precisão. Dando tempo ao tempo.
Aliás, em tempo…
Minha segunda opção, que guardei a sete chaves, era fazer Moda - Estilismo, curso que nunca prestei por saber que a) não teria dinheiro para pagar a faculdade, b) não havia uma universidade pública com essa formação no estado de SP à época.
E era o plano B, afinal.
Continuo a amar desenho, sociologia, história, estética e tudo o que envolve a Moda. Não fiquei a ver navios, afinal o jornalismo me proporcionou cobrir semanas de moda nacionais e internacionais, frequentar bastidores e exposições, falar com estilistas no mundo todo. Enquanto isso, quantos cursos fiz para abarcar essa curiosidade!
Acabei sem querer querendo por trazer a Moda e a Comunicação para o que crio e ensino hoje, dentro do meu entender de branding pessoal.
Mundo, mundo, vasto mundo...
Tudo se (des)amarra
Olhando no retrovisor, as coisas se amarraram de formas que eu não conseguiria prever em 1.999, 2.000, quando a escolha de uma profissão era um tema constante na minha vida.
A vida é o que acontece entre uma notícia e outra; entre uma roupa e outra trocada; entre uma escolha e outra que (pensamos que) fazemos.
A vida acontece.
O que vem a seguir?
O que ainda vai se amarrar para mim e para você? Sei lá… Mas sei que algo virá.
É por essas e outras que às vezes gosto de olhar para trás e ressignificar o passado para antever futuros, esperançar.
Se deixar as notícias desta semana me ensurdecerem, não vou ouvir o barulho dos bons ventos trazendo desejos guardados em baús fresquinhos, em novas roupagens e improváveis encaixes.
É preciso sentir os novos ventos, ouvi-los. É preciso desligar-se um pouco e abrir a janela para que os antigos novos sonhos possam entrar.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e transição de carreira, em palestras, cursos e na comunidade/escola Desencaixa Clube, voltada para quem curte conexões reais, ampliação de repertório e aprendizagem contínua.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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