Descarrego #37 | Velha e boa tendência
A nova geração descobriu a caminhada silenciosa. E a gente?
Ei, como vc está?
Eu estou bem… E, sabe, acabo de perceber que o texto de hoje remete à newsletter anterior, sobre os aprendizados com a Dona P - chegou a ler?
Acho que a gente vai digerindo os acontecimentos semana pós semana e abrindo os olhos para as contracorrentes no processo. A importância do simples e do silêncio é o antigo mais novo sobre o qual podemos falar. Algo no zeitgeist, o dito espírito tempo, que está pipocando no meu espírito, na minha vida, toda hora!
Por isso, reaparece neste Descarrego.
Antes, umas agendas boas :-)
Antes de ir para o texto, quero te convidar a espiar meu Insta, andei postando umas coisas que vc pode curtir sobre marca pessoal, além de agendas que tenho pela frente.
Na próxima semana, estarei num evento rico em conteúdo estilo retiro para CEOs do Mulheres Inspiradoras, como orgulhosa embaixadora que sou do grupo, e vou trazer insights e inspirações pelo meu Insta pra vocês.
Destaco ainda um seminário online sobre autenticidade e cópia encomendado por uma comunidade chamada Fika, para o qual você ainda consegue se inscrever, no dia 19/11. Ah, e tem um talk meu confirmadíssimo no evento ao vivo Manifesto, sobre moda e outras reflexões, que rola em Piracicaba (SP) no dia 23/11 - dá para se inscrever por aqui.
Fora a lista de espera para a nova leva de entradas na comunidade-escola Desencaixa Clube, que vai acontecer logo mais! Vai valer demais a pena ser assinante, cola na minha: estou preparando conteúdos e conversas motivadoras, práticas, cheias de repertório - mas sem alienação jamais - para o primeiro trimestre de 2024. Vamos falar de rituais, hábitos, metas de formas inovadoras e críticas.
Muita coisa pela frente! No caminho, silêncio por favor.
Vem entender isso.
Beijos, Bru
… Para falar comigo, orçar palestras ou trocar sobre projetos e colaborações especiais só responder este e-mail ou escrever para bruna@brufioreti.com.br
… Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #37 | Uma velha e boa tendência
Uma tendência que supostamente começa a ser adotada pela geração Z me chamou a atenção nas leituras da semana: a "silent walking", mas vamos chamar de "caminhada silenciosa", né, porque é de revirar os olhos o pessoal que pesquisa futuro não se dar ao trabalho de traduzir as bichinhas para o português.
Pois então, virou coisa quente a milenar caminhada em silêncio, hábito adotado com entusiasmo pela velha guarda de filósofos e pensadores dos séculos passados e muito em voga, compulsoriamente, ainda hoje por tanta gente pobre que mora a quilômetros de escolas e locais de trabalho.
Mas antes de ironizar os novinhos por sua "descoberta", compreendamos o contexto: estamos falando de pessoas que não largam o celular, que cresceram ouvindo ser necessário maximizar o uso do tempo ouvindo podcast enquanto fazem outra coisa ou preenchendo o vazio com música, TV ou computador ligados, ligações, videogame, que nasceram no mundo digital.
É toda uma geração avessa ao silêncio e, em última análise, ao vazio. Talvez por isso, se sentindo tão vazia em alguns momentos.
Eles. Mas também nós.
Geração “somos todos um”
Talvez você já tenha lido sobre quão questionável é separar de maneira estanque as gerações por data de nascimento no contexto atual.
Ora, somos todos influenciados pelos movimentos das gerações mais novas e pela época em que vivemos. No caso de hoje, em especial, as gerações se encontram nos mesmos espaços virtuais e físicos, compartilham e competem no mercado de trabalho. Também são impactadas pela algoritmização das influências e informações e por uma velocidade de mudanças que deixa estragos de ansiedade por onde passa.
Evidente que os de 13 anos não sentem essas dores da mesma forma que os de 43, e vice-versa.
Porém, todos respiramos esse ar rarefeito - falo da sensação de impotência diante de um mundo caótico e em colapso, da sensação de inadequação, da exacerbação coletiva, da vontade de sumir, se isolar e a consequente culpa por querer fugir, enquanto almeja estar presente, no ápice, sendo aceito.
Queremos tudo e queremos nos afastar de tudo: todas as gerações vivem esse paradoxo. Mudam os graus e as formas; a atmosfera é a mesma, o Zeitgeist permanece.
A caminhada silenciosa dá seus primeiros, mas importantes passinhos, nessa estrada de crises pessoais e globais intergeracionais.
Se não podemos, ou achamos que não podemos viver de forma simples e mais discreta e isolada, conseguimos ao menos nos presentear com minutos de desconexão para experimentar momentos de paz sem tanta culpa.
A redescoberta dos passos solo
Li sobre a tal tendência no birô Institute For The Future, no qual confio e já estudei. Entre tantas tendências em ascensão, eles apontavam essa citando a iniciativa da podcaster Mady Maio de praticar o passeio sem tecnologia. Nada mais que uma tentativa de vivenciar o presente sem tanta distração. Diminuir o ritmo e se reconectar consigo mesma e o ambiente.
A influencer disse que o "movimento" que acredita ter iniciado lhe trouxe clareza mental, a possibilidade de ouvir a si mesma, de deixar os sentidos aflorarem.
E eis que a geração Z descobriu o poder da caminhada solo!
Eu sei, eu sei: pra gente, tende a soar como um "nada de novo no front' de revirar os olhos. Mas tem arrogância e falta de autopercepção aí.
Por isso, me peguei mais uma vez pensando que o velho é mesmo novo, fresco, renovável. Ou, se preferirmos, que o futuro é ancestral, nos leva para práticas tão abandonadas quanto importantes para a condição humana, para a nossa sanidade em tempos de guerras e pouca paz, inclusive de espírito.
Deixar o celular em casa - qual a última vez que você fez isso?
Meu desmame uns anos atrás
Passei por um desmame de telefone quando saí da revista Glamour, na qual fui redatora-chefe até 2017, para trabalhar de casa nos meus projetos de carreira e branding pessoal.
Quando era contratada de empresas jornalísticas - minha vida profissional toda antes dessa data, em cargos de liderança ou reportagem - em culturas empresariais frenéticas e competitivas, não via a menor possibilidade de me afastar do telefone e do computador, ignorar a última notícia e muito menos deixar qualquer mensagem sem resposta imediata.
Cresci na carreira em parte por essa eficiência, pela rapidez na resolução de problemas, por ser profundamente engajada e presente.
Minhas caminhadas não eram nem um pouco silenciosas. Eu parava no parque ou no transport para responder mensagem sem nem notar. Pausava viagem, conversa e até sexo - tudo - pra viver a realidade de outrem ou satisfazer a pressa do mundo do trabalho.
Parece outra vida.
Fui largando, largando, aos poucos… e hoje, mesmo trabalhando virtualmente e com rede social, quase nunca sou a que está absorta no celular numa mesa, levo tempo até demais para responder e sou adepta da comunicação assíncrona (tanto que meu último projeto, a comunidade-escola Desencaixa Clube se baseia nessa ideia, de não precisarmos ler e comentar ao mesmo tempo, embora tenhamos nossas datas pré-agendadas com possibilidade de encontro).
Sou muito conectada, mas não escrava do celular. E vivo bem melhor assim.
Acontece que a própria ideia de parar tudo para responder ficou anacrônica. Aqui, em novembro de 2023, quase ninguém realmente tem parada.
O movimento interrompido pelo celular, na verdade, não costuma mais incluir uma pausa na atividade anterior; uma ação não substitui a outra. É tudo em todo lugar ao mesmo tempo, na ilusão da multitarefa.
Explico.
Motoristas em movimento no celular, pedestres idem; estudantes que não se concentram nas aulas porque estão rolando feeds; trabalhadores respondendo demandas fora do expediente, só que no sofá com suas famílias; gamers insones esperando atualizações e competidores do outro lado do mundo estarem online…
Há inúmeras nuances da conexão ininterrupta sendo estudadas e debatidas na atualidade pelos perigos individuais e coletivos que representam.
Mesmo assim, cientes do exagero em que vivemos, nos parece doloroso fazer o maior dos livramentos - para usar o termo fervilhante da semana anterior -, que é a desconexão, o detox tecnológico nem que seja por 30 minutos para a gen Z ou algumas horas diárias para nós.
Livramento, eu sei que você sabe
Aliás, você consegue NÃO SABER a referência ao livramento que fiz acima?
Você pôde espiar as redes sociais nos dias que passaram e não ver a Bruna Marquezine num podcast gargalhando quando questionada sobre um livramento do qual se lembrava na vida? E os memes com Neymar?
Você realmente tem a opção de não assistir a trechos dos podcasts mais quentes? Os memes do momento, e assim por diante?
Vira-e-mexe trago esses questionamentos, perdão por ser insistente, mas é que acho fundamental desnudarmos o que chamo de "algoritmizacão das nossas experiências" - tudo o que consumimos é pré-escolhido por inteligências de máquinas que lêem nossas escolhas, nossos dados e até nossas ausências para nos apresentar o que supostamente é conveniente para cada um, mas obviamente serve a interesses econômicos.
A caminhada silenciosa, claro, pode fomentar uma porção de itens de consumo, entretanto se retirarmos o lado “tendência” da coisa, temos apenas você, suas pernas e um lugar para pensar com seus botões, ou sem eles.
Talvez sorrir de um pensamento que passa fugidio, ou gargalhar com a Bruna de uma situação enquanto atravessa a rua, mas sem que ninguém se detenha na sua figura ou poste a sua reação.
Sem áudio, comentário, nem viralização. Só você e quem sabe uns novinhos cruzando o caminho. Novinhos que largaram o fone para descobrir o barulho das folhas ao vento, conversas em terceiro plano e outras delícias de outros carnavais.
Silêncio, por favor, aqui temos pessoas voltando a caminhar contra o vento.
obs. Hj não tem versão narrada porque a sinusite me pegou, trouxe tosse e uma voz falhando, tá?
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e transição de carreira, em palestras, cursos e na comunidade/escola Desencaixa Clube, voltada para quem curte conexões reais, ampliação de repertório e aprendizagem contínua.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por quase 20 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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