Descarrego #32 | Clubinho das desencaixadas
Toda diferentona tem as suas iguais, diferentes
Tomei a liberdade de mandar essa newsletter na quarta, em vez de terça porque queria, em primeiro lugar, poder te convidar para oficialmente garantir seu lugar no meu, no nosso Desencaixa Clube.
Em segundo lugar, queria escrever algo que contasse de forma mais íntima - que é a cara dos meus textos aqui - de onde vem essa ideia. Busquei lá no nascedouro, espero que essa lembrança “converse” com você e ative uma autoconfiança de se saber diferente mas se aceitar como tal.
Então, sem enrolação, te deixarei a seguir o link para saber mais do Clubão, a comunidade/escola por assinatura que estou lançando. Acho que pode ser um complemento ideal para muita gente que curte os Descarregos.
E agora vamos para o texto…
… Para falar comigo, orçar palestras ou trocar sobre projetos e colaborações especiais só responder este e-mail ou escrever para bruna@brufioreti.com.br
… Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #32 | Clubinho das desencaixadas
Qual foi seu primeiro clubinho? O grupo que te fez se sentir pertencente pra caramba mesmo sendo diferente de tanta gente?
O meu, certeza, era composto por 3 Fioretinhas. Eu, a Sabrina e a Dani, minhas irmãs.
É que, quando comecei a notar - e foi cedo - que fora de casa eu meio que me destacava, subia nos palcos, fazia mais piada que todo mundo, não tinha tanto interesse nas mesmas conversas que outras amiguinhas, achava várias meio “infantis” (enfim, a pretensão)… Bom, nessa época, eu também comecei a perceber que com as minhas irmãs eu era deliciosamente mais uma.
Entende?
Se a pequena de 4, 6 anos já era toda aparecida e sociável e isso a fazia ser muito autoconsciente na escolinha, lá na sala de TV e no quintal de casa, era parecida com as irmãs mais velhas em algumas das esquisitices.
O alento de fazer mil imitações, de fazer brincadeiras estúpidas que ninguém mais entendia, de caprichar nas piadas internas na frente dos convidados do almoço, de gostar de desenhar as mesmas coisas, cantar as mesmas músicas, chorar com os mesmos filmes, não ir com a cara das mesmas pessoas…
Aquele trio foi meu primeiro clubinho.
Clube das desencaixadinhas, que ainda nem tinham muita noção de quão diferentes seriam depois que crescessem, em suas escolhas e ideias. E isso não teria só os aspectos aparentemente positivos que descrevi acima nem dentro nem fora do trio.
Acho que as três hienas que éramos iam dar muita risada e amar saber que a versão 40 anos da caçula estava lançando um negócio chamado Desencaixa Clube. Embora fossem preferir o nome Clube das Desencaixadas.
Adolescente, jovenzita e depois aqui, a jovem senhora que vos fala: todas essas versões foram se aprofundando em desencaixes.
Muita gente jamais desconfiou dos mais importantes, mas a maioria percebeu pique demais, pique de menos, opiniões fortes, condescendência em excesso e outros tantos traços contraditórios num primeiro momento que me faziam ser o que hoje chamo de desencaixada.
No fundo, sempre gostei de me sentir um pouco diferente.
É incômodo, às vezes, mas dá uma sensação de cumplicidade consigo mesma que só quem sente sabe.
Você sabe do que falo, né?
Eu nunca estou sozinha, mesmo que muito só, porque estou com a minha turma de desencaixes na cola, me lembrando dos caminhos que escolhi, banquei, desbanquei também.
Tem um preço, às vezes alto, porém hoje adoro perceber como fiz dos desencaixes, meus diferenciais.
Como me despasteurizei sem ser uma completa outsider, porque nunca estive imune às delícias mundanas de querer conforto, reconhecimento, carinho, amizades... Só não queria sem ser eu mesma; nem quero.
Fui chamada de deslumbrada. De marketeira. De idiota. De enganada. De exagerada. De inocente. De crítica demais. De anjo. De demônio. De apaixonante. De insolente. De coisas lindas e horríveis, calcadas ou não na realidade, que me magoaram, acalentaram ou passaram sem nenhum arranhão.
Mas não passei muito sem ser vista.
E creio que isso foi um dos fatores que me fizeram até aqui trilhar uma carreira bem-sucedida, talvez só não só tão bem-sucedida assim porque eu disse dezenas de nãos inesperados, me posicionei quando poderia ter ficado quieta, fui leal quando deveria ter sido rebelde, me indispus algumas vezes e fui rechaçada para posições que exigissem fingimento (o que erroneamente chamam de “ser política”).
Creio que isso também me levou a ser curiosa com o que hoje chamamos de branding pessoal. Eu sempre quis entender as variáveis da comunicação que nos faziam ser percebidas assim ou assado. Hoje, entendo e ensino. Pratico o que posso e o que quero.
Lacrei menos do que poderia para ser popular, mas preservei uns cacos da minha saúde mental.
Lacrei mais do que gostariam e deixei de ser aceita em certos meios, mas evitei relações nauseantes.
Nunca quis fazer e ensinar o encaixe - o que, de novo, cobrou seus preços.
Fui eu mesma sempre que pude, usei as máscaras que estavam à minha disposição. A autenticidade não estaria nesse baile de mais ou menos mascarados?
Agora venho sem nenhuma máscara dizer que me sinto bem porque sei que tem muita gente como eu aí, de cara lavada, anuindo.
Esse sentimento de diferenciação está em todos nós. Só que alguns ouvem essa voz uns decibéis acima.
Por que não sabemos?
Porque desencaixados não são sempre ruidosos da cabeça pra fora: geralmente não detalham seus desajustes para qualquer um, se isolam, usam as melhores máscaras sociais e deus sabe como precisam descansar depois de vesti-las por muito tempo!
Se você engoliu seus desencaixes por muitos anos, provavelmente sente alívio em ter com quem dividir essa sensação, ser reconhecido, encontrar eco.
Talvez ainda não saiba se existe mesmo um clubinho, um clube ou um clubão para você, mas provavelmente desconfia que seria bom poder seguir seu caminho não sendo exatamente o que as pessoas esperam.
Ou até sendo, quando preciso, mas podendo desabafar honestamente depois.
Assumir seus paradoxos, mesmo que no início apenas internamente, já é libertador!
Se você sente que pode ser duas ou três coisas absolutamente distintas e contraditórias e não saberia dissociá-las, você vive o paradoxo de ser desencaixado num mundo que clama por opiniões rasas, binárias, estanques. Por enquadramento, certo e errado, concorda ou discorda plenamente.
Cadê os meandros? As zonas cinzentas, as dúvidas? Os “não sei”?
Cadê o autoral? O esquisito? O ousado? O não “rankeável”? O oculto?
Cadê a gente embaixo dessa lama toda?
Eu te entendo, sei que me entende. Cá pra nós, ser complexo é bonito, mas bem desgastante. Dá vontade de gritar ou de se calar pra sempre, das duas coisas!
Pensar muito é um alento e uma praga.
Querer mais é uma necessidade e uma fuga.
Essa poderia ser uma lista paradoxal infinita, mas paro por aqui com a certeza que nossos desencaixes devem ser diferentes, embora a sensação que repousa sobre eles seja similar.
Meu Clubinho lá de casa é parte do Clubão hoje: o trio continua entre dores e amores, vivendo perigosamente, gargalhando além da conta e alto demais para se enquadrar nas regrinhas sociais de boas-moças. Nem de longe viramos unanimidade, o que já intuíamos quando crianças.
Não é agora com dores na lombar, sono irregular e reposição de vitaminas que íamos tentar nos encaixar, afinal. Vamos é nos unir nas diferenças, rir das nossas loucuras e realizar sonhos apesar de quem não nos entende.
Eles talvez nunca nos entendam.
Ah, mas nos verão por aí e ouvirão falar da gente. Falaram mal para se sentirem bem. Copiarão nossas ideias. Seguirão nossos passos sem perceber. E, desprovidos de autocrítica, estarão já já nos perguntando como é que faz ou pregando as nossas palavras sem entender de onde brotaram.
São fãs, saiba disso. Desencaixes fascinam. Nosso Clube é foda.
Desencaixadas, irmãs de sangue ou não, obrigada por estarem aí, firmes.
Desencaixadas, uni-vos!
Desencaixadas, desencaixados, desencaixades: nós temos a força ;-)
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
E te convido a conhecer mais o Desencaixa Clube, o Clubão que criei agora :-)
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por quase 20 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Estou lançando nesta semana o novo Desencaixa Clube!
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego quinzenal! No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
Essa newsletter sai às terças, de 15 em 15 dias, com texto lúdico do meu cuore para o seu rs. Compartilhar faz MUITA diferença, então é só usar o botãozinho aqui:
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