Eiii! Como está por aí?
Na semana passada, me dediquei a fazer um Descarrego ao vivo para falar do fechamento do meu curso Manual de Você, mas voltei e voltei falando de um tema que sempre aparece no meu inbox e entre clientes.
Queria aproveitar o espaço para agradecer quem veio para o Manual e dizer que estou preparando algo que tende a agradar muito vc que é Descarrego linha dura rs.
Mas a news aqui vai seguir firmíssima, tá?
Aliás, vamos?
Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #29 | Quem precisa de mais um podcast?
Eu já ouvi, você provavelmente também.
Depois de um gole a mais de cerveja ou um a menos de café a gente que consome muita internet libera aquele grito preso na garganta: “quem precisa de mais um podcast?”.
Quando atendo clientes, que via de regra são pessoas criativas, talentosas e com recursos para fazer não apenas o “pod”, mas o “videocast” com aquele quê profissionalzinho e tudo, a pergunta sempre reaparece. Vem carregada de algum escárnio pela pasteurização do formato misturado ao desejo até então reprimido de fazer o próprio. Um gosto de “saturou, perdi o timing, droga”.
O que mais encontro é gente que tem escárnio pela pasteurização do formato misturado ao desejo até então reprimido de fazer o próprio. Um gosto de “saturou, perdi o timing, droga”.
Tá. Quem precisa de mais um podcast? - pergunto para você.
Eu, particularmente, creio que não preciso, porque apesar de adorar participar como convidada e de saber que teria imenso prazer como apresentadora, pre-ci-so mesmo é de limpar ruídos, embora não tenha como fugir de estar atenta a cada rugido longínquo pela natureza do meu trabalho.
E você, ainda quer mais?
O roteiro, sabemos.
Multiempreendedora, mulher faz-tudo, novas e velhas ricas ou blogueiras unidas (pseudo ou não) empoderadas, com a mesma paleta de cores.
Ou desconstruídas falando sobre desconstruções necessárias, mas sendo obrigadas a embarcar no sistema muito bem construído. Não tem jeito.
Há ainda eles, os homens lacradores de camiseta apertada, barbicha, “vapo”, decoradores de frases de efeito unidos, monocromáticos em tons de roupa, gírias e discurso.
Alguns, com uma empolgação e uma ênfase tão acima do tom que nos fazem pensar no conteúdo das canecas. Fake Natty?!?
(Tudo bem, no meu pod, eu certamente beberia cerveja, só que assumidamente. Outro “suco”, para você que pegou a referência do jargão Fake Natty acima).
E lá vamos nós.
Geração de opiniões sem embasamento mas com muita convicção, livros citados jamais lidos, temas siameses, mesmas pessoas sendo convidadas para falar dos mesmos assuntos da mesma maneira.
Microfones parrudos, fones grandes, mesas de madeira, canecas com logotipo, cortes de vídeo pensados para deixar aquela visão óbvia mais engraçada ou provocativa. Termo-clichê a rodo, nenhuma palavra “velha”, zero neologismos.
Geração de opiniões sem embasamento mas com muita convicção, livros citados jamais lidos, temas siameses, mesmas pessoas sendo convidadas para falar dos mesmos assuntos da mesma maneira.
Aaaaaah, a saturação pega gregos e troianos.
A toada de um seguindo o rastro do outro como se fosse preciso entrar em toda e qualquer maré cansa como espectador e produtor de conteúdo!
Por isso, a pergunta lá do início passa pela minha cabeça cansada e faz tanta gente me buscar como oráculo de branding: qual a sentença? fazer ou não?
Chegarei lá.
A saturação pega gregos e troianos.
Se você também adora falar de originalidade, ter contato com coisas diferentes, farejar novas perspectivas… também questiona a avalanche de vídeos idênticos, mesmo vivendo a contradição de pensar em embarcar no modelo do momento.
Ué, fora aquela galera que faz por fazer, porque precisa aparecer mesmo, e os geniais, que de fato criaram podcasts maravilhosos e merecem nossas palmas, a grande massa pensa em entrar tardiamente para ganhar algum trocado.
Como diria o meme: quem somos nós para julgar?
Esse é o primeiro ponto.
Todo mundo se vê obrigado a fazer conteúdo, mas monetizar de verdade é para pouquíssimos, embora tantos discursos enganosos vendam a ideia de que é fácil um lugar ao sol no reino das redes sociais. Consistência, criatividade, interação… aham, sabemos a suposta fórmula. Mas com a profissionalização toda está mais para uma loteria.
Como julgar a tentativa de ganhar dinheiro com o hype?
Eu me compadeço dos colegas que sentem o pesar de não ter colocado a mão na massa lá atrás, na primeira ideia. Eu mesma tive umas boas, jamais levadas ao estúdio.
Como julgar a tentativa de ganhar dinheiro com o hype?
Questiono se os mesmíssimos patrocinadores que escolhem quase sempre os mesmíssimos influencers (podcasters, comunicadores…) investiriam em projetos de pessoas cheias de vicissitudes, tipo eu, tipo, quem sabe, você.
A “aposta” vem depois do sucesso e do SEU investimento. Lembra a dinâmica de promoção em redação jornalística, agência e tal: primeiro você mostra, se descabela, acumula funções, “aguarda a oportunidade”. Sóóó depois, SE DER CERTO, você é “premiado” com o cargo que já ocupa há meses e o salário correspondente - de preferência, escalonado.
É muito mais desafiador para pessoas que ousam um script contracorrente (e não têm a fama, o gênio e o peso de um Mano Brown). Pessoas que mudam de ideia. Que tentam sem roteirinho formular argumento e não temem jogá-lo às favas se preciso for por honestidade intelectual.
É desafiador para quem se desencaixa do discurso prontíssimo e com arestas bem definidas da nossa internet - do nosso mundo. Para quem ousa pensar.
É ainda mais desafiador para quem não tem tempo, dinheiro, estudo, amigos…
Tudo é mais desafiador para quem se desencaixa do discurso prontíssimo e com arestas bem definidas da internet - do mundo.
Vou mentir?
Todos esses anos trabalhando dos dois lados da moeda me ensinaram que empresas querem o certeiro, além do que muitas são caretas, viciadas nos mesmos nomes indicados e adestráveis. Seus funcionários precisam fazer “washing” de tudo o que soar polêmico e antilucrativo, cada vez mais. Entretanto, repare, aí também se viciam nas personagens de sempre, que acreditam ser mais “controláveis”.
Espero que não sejam.
Até porque, entre quatro paredes, não vale tudo, não. Ali, as coisas continuam bem brancas, hierarquizadas, com cheiro de talco e móveis lustrosos alinhados à direita, principalmente nas salas das chefias.
Vou mentir?
Quem sair do script será punido em foto, texto, evento, vídeo e, sim, podcast. Ou melhor, sem podcast.
A menos que a viralização o salve e o sucesso o blinde, porque o dinheiro é a mais alta moeda do propósito empresarial. E todas as pessoas no nosso mundo são tidos, como Logan jogou brilhantemente na última temporada da série “Succession” (HBO), como “unidades monetárias".
Todos pensam assim? Todos é muita coisa!
O sistema onipresente conduz a maioria a pensar e a agir nessa direção. Sem essas reflexões indigestas, engolimos o incômodo da civilização atual em vez de combater a ideia de que somos meros cifrões aos olhos de empresas, patrões, colegas e até pessoas íntimas.
Não somos só cifrões, né? Mas são tantos que compram essa ideia que sobram poucos com condições de oferecer originalidade, verdade, emoção, questionamento, ideias fora da curva, polêmicas que valem ser polemizadas e por aí vai.
E aí, precisamos de mais um podcast?
Por questões de conteúdo e inovação, provavelmente não.
Há um mar de cópias insossas apenas satisfazendo a própria FOMO em forma de produção de conteúdo. Que façam. Você não precisa ser um deles nem consumir.
Fui e voltei tanto nas palavras para respirarmos um pouco fora da bolha marketeira, de branding ou de desejos que nem sabemos decifrar. Caminhamos mentalmente, pensamos livres e agora podemos enxergar novas nuances - espero.
Tem o ponto aqui: há um mar de cópias insossas apenas satisfazendo a própria FOMO em forma de produção de conteúdo. Que façam. Você não precisa ser um deles nem consumir.
Digo mais: taí uma briga perdida! É inexorável que as tendências naveguem no seu rumo e na sua velocidade, porque delas, já saturadas e nauseabundas, é que surgem novas, agitadas, grandiosas, quiçá nunca dantes avistadas…
A nossa birra não vai barrar os podcasts. Mas o nosso olhar apurado pode mirar no que eles tendem a carregar logo mais.
Devo confessar, com algum embaraço, que ouço pouquíssimo podcast e que acompanho quase tudo no celular sem som, porque tenho os sentidos hipersensíveis. Também gosto de poupar meu ouvido de asneiras porque me afeto, me irrito demais. Não sou nenhum monge, silêncio aqui é ouro!
No entanto…
Assim como qualquer dia posso pegar meu microfonão (que tenho há anos) e tirar do plano das ideias um novo “brucast” nichado, desencaixado e talvez bem pouco acessado; você também pode agora mesmo tirar sua ideia da cabeça e engrossar o “podcaldo” - porque ele ainda não desandou, não, está cremoso, só precisando de uns bons “tamperros”.
Quem sabe dentro da tendência - ainda que envergonhado por ter aderido ao prato no qual cuspiu -você não tenha o privilégio de visualizar antes a próxima.
Confesso: ninguém precisa de mais um podcast, na minha análise de nuances rabugentas.
Mas eu aprendi que tem coisas que o mundo precisa e só sabe depois que a criação vem. E se o mundo precisar ouvir o seu? E se a sua voz for a pimenta que está faltando?
Aprendi que tem coisas que o mundo precisa e só sabe depois que a criação vem.
Há pouco tempo, eu não sabia que precisava tanto do meme do gatinho preto, do podcast novo do Pedro Henrique França, dos livros da Carla Madeira… A necessidade também se apresenta do avesso.
Ouvir é bom, mas às vezes é hora de falar…
Quem aí precisa falar mais? Ser ouvido?
Quem tem algo novo, que não escuta alguém dizer daquele jeito?
Talvez a pergunta correta seja: quem precisa fazer um podcast?
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em mentorias individuais, palestras, treinamentos em empresas e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal! No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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