Oi, tudo certo por aí?
Aqui bateu uma reflexão sobre se conhecer, a onda toda em torno disso, e o impacto da psicologização da sociedade na nossa vida. Sem conclusões generalizadas, porque cada um sabe de si, né?
Vem.
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Descarrego #28 | Desmascarados
O que está por trás da máscara?
Atrás da aparência bem cuidada, do sorriso contido, dos olhos atentos, dos gestos sutis?
Da cara amarrada, da verborragia, do discurso crítico, do uso excessivo do eu ou do uso escasso dele?
Não existe resposta unitária, como parece quando lemos as análises mais ou menos fundamentadas das redes sociais, parte da diagnosticomania que nos impacta todo dia.
Não existe uma cola única para máscaras semelhantes.
Cada um tem o seu não dito por trás da casca, e ele não é descoberto num post ou num sonho. Essas podem ser fagulhas para um longo processo posterior.
Cada um tem um não dito por trás da máscara que usa todo dia
Processo tão espetacular quanto desolador.
Visitar as profundezas da alma nos permite ser mais justos conosco e com os demais. É assim que sabemos as feridas que são cutucadas com uma simples palavra e podemos respirar e barrar aquele leão antes de ele sair para estraçalhar quem passa.
O leão, o trauma.
Só encarando defeitos e qualidades com sinceridade cristalina podemos diminuir o autoengano. Só diminuindo o autoengano, aplacamos a necessidade de enganar outrem, forjar um eu inexistente.
Mas dói, né?
Decepciona passar o demaquilante mental e deixar aflorarem os machucados que nós mesmos nos infringimos ou permitimos que nos infringissem. Admitir fraquezas, falhas de caráter, sentimentos "feios". Descobrir traços de transtornos psicológicos que faríamos tudo para não ter, mas que nos dominam e quebram a lógica motivacional em infinitos caquinhos.
Só encarando defeitos e qualidades com sinceridade cristalina podemos diminuir o autoengano. Só diminuindo o autoengano, aplacamos a necessidade de enganar outrem
Então...
Melhor saber muito de si? Ou não?
Ignorância é uma bênção? Ou uma chaga?
Vale preencher os dias e a mente com ruído branco em vez de dar um mergulho nas águas turvas da memória e do pensamento?
Nossa cultura altamente psicologizada tem a resposta na ponta da língua: melhor, claro, se conhecer, ter domínio de si mesmo, buscar autocontrole, autorresponsabilidade, auto-tudo-o-que-pudermos.
Embora, na prática, nos seja oferecida toda sorte de alienação para desviar o foco.
Você muito provavelmente se aliena, mas concorda com a ideia onipresente de que autoconhecimento é fundamental, tem excelentes argumentos para tal. O maior deles não precisa nem ser dito, mas nos é intuitivo: precisamos nos conhecer mais que os outros para não sermos massacrados, ser fortes para aguentar o tranco, ter uma explicação à pronta-entrega para nós mesmos e para o mundo caso algo saia do trilho.
Ah, e as coisas saem do trilho!
O autoconhecimento não impede isso, ao contrário do que se apregoa. Mas a gente há de convir que ele ajuda a colocar os pingos nos is e domar o instinto autodestrutivo.
Ele só falha muitas vezes em desandar a torta de ego que se forma quando a pessoa escolhe lançar um verniz cor de rosa sob seus pontos não tão bonitos.
Talvez não seja o seu caso, mas observe, ouça mais ao redor, e vai captar a profunda tendência humana, já bem documentada por pesquisadores, de se achar superior aos outros.
Observe ao redor e vai captar a profunda tendência humana, já bem documentada, de se achar superior aos outros
O chicote que muitos usam para se maltratar no pensamento convive com o espelho embelezador no qual outros tantos se olham diariamente para aguentar viver, se sentindo melhores e mais íntegros do que são.
Simplesmente ser, ter defeito e qualidade, assumir o paradoxo: esse é o lugar que o autoconhecimento pode nos levar se permitirmos. Tem dor e delícia, paz e guerra, criancice e maturidade, todas as dualidades que se pode imaginar e que nos fazem únicos e cheios de camadas.
Aceitar a complexidade de ser a gente mesmo é o que faz a jornada de autoconhecimento valer a pena.
Se for só por modismo, sinceramente, melhor caminhar na névoa e se desconhecer, moldando-se às situações sem enfiar a cabeça na terra nem olhar demais para as nuvens. Não é o caminho errado; é, inclusive, o caminho mais comum.
Quem se conhece, conhece o outro melhor, e isso seduz
Qual você escolhe?
Antes de responder, lembre-se de que quem se conhece mesmo emana uma aura peculiar. Ela é captada com o sexto sentido que todos temos - talvez a soma das dezenas de sentidos mais "práticos" que a ciência defende.
Quem se conhece, conhece o outro melhor, e isso seduz.
Quem se conhece não precisa se esforçar para atrair.
É por isso que, a despeito de toda crítica que se pode fazer ao "conhece-te a ti mesmo" exacerbado da atualidade, ainda prefiro a busca pelo "saber de si" na plenitude. Descansar de qualquer pose nem que seja só no silêncio da noite e se encarar de cabeça erguida e lágrimas nos olhos.
Nítida.
É um ato individual, mas coletivo, já que quase todo mundo sem saber fareja quem você é.
Passar pelo mundo a passeio? Sim. Mas um passeio honesto, impactando e deixando o vento levar a máscara no caminho
Essa é a melhor ideia que posso trazer e não só para quem ama ser profundona, sabe?
Também para quem busca realizações mundanas das boas, como carreira bem-sucedida, relacionamentos duradouros, marca pessoal reconhecida, menos comparação, mais coragem para testar coisas novas, força para enfrentar fases difíceis...
Interessar-se por si mesmo, letrar-se no outro, passar pelo mundo a passeio, mas um passeio honesto.
Você impacta por onde passa.
Você sente o vento bater no rosto e, quando menos espera, deixa a máscara cair no caminho.
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Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em mentorias individuais, palestras, treinamentos em empresas e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal! No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
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