Ei, você também sente às vezes que alguém acelerou o som vezes 2, tipo no YouTube ou no WhatsApp, e se esqueceu de voltar ao normal?
A gente acelera junto, ok… Mas quanto, como e até quando?
Foi me perguntando isso que fiz o texto-metáfora de hoje, com a intenção de descarregar uma ideia constante nesta newsletter e na minha cabeça: não estaria na hora de a gente parar de rebolar tanto para se encaixar e pelo menos de vez em quando dançar conforme a própria música?
Se está cansada de sambar miudinho, vem cá no embalo…
Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #24 | Conforme a música
Quem é que aguenta dançar conforme a música hoje?
O ritmo é alucinante. Exige, portanto, alucinógenos, placebos e outra sorte de medicações que agitem de um lado e amorteçam de outro, para ser seguido a contento.
A vida profissional é tratada como uma trend do Tiktok na qual você mal começa a dançar, já tem que editar, girar e rebolar para acompanhar o que vem na sequência.
Nosso trabalho se assemelha à cacofonia do Twitter, que caminha pra trás enquanto carrega uma massa de desinformação, ódio e tempo útil pra frente que atrás vem gente, muita gente.
As carreiras avançam na sinfonia soluçante do Instagram, que fagocita tudo o que vê pela frente e cria dia pós dia um monstrengo desafinado, ruidosíssimo, onipresente.
São engolidas na larica da inteligência artificial, sem tempo de dizer um "a"...
Tudo acontecendo no ruído branco, um som-não-som que atravessa a vida feito trator, mas passa batido. Vai nos entorpecendo e dando a ilusão de calmaria num suave dois pra lá, dois pra cá que soa entediante, porém só está esperando ser esquecido para nos fazer escorregar.
Sentimos nossas vidas profissionais correndo no ritmo frenético do Tiktok, perseguidas pelo monstrengo do Instagram, enquanto buscamos placebos psicodélicos e nos distraímos no ruído branco do dia a dia de hiperinformação
Diante de tanto som, quem aguenta ficar em pé?
Parado?
Quem aguenta se mexer?
Nunca se falou tanto em respeitar o próprio ritmo, justamente porque nunca se precisou tanto de inércia - deixar acontecer naturalmente, aquele sonho datado que só, feito o tecladinho das músicas dos anos 80.
Quem estacionou no saudosismo dos inferninhos de outros tempos dificilmente aguenta padecer no paraíso prometido desta era, que deve ser a última camada do inferno de Dante.
E teria que aguentar?
Tivemos que ir até o chão. Tirar o pé do chão. Repetir "chão, chão, chão”. Muito chão e pouco céu, freneticamente, na tentativa de embalar as nossas vidas profissionais de uns anos para cá.
Vacilamos e caímos na pista, mas levantamos para novos passos sem perder tempo, porque a faixa vira rápido demais para respirar e curar as feridas.
E cá estamos, uns suados e ofegantes, outros embriagados e prostrados, aguardando o que o DJ que ninguém nunca viu nem sabe bem quem é tem a oferecer em 3, 2, 1... Sua mão, dizem, é invisível.
Quem aguenta - por isso pergunto - dançar conforme a música?
Poucos, pouquíssimos.
Cá estamos, uns suados e ofegantes, outros embriagados e prostrados, aguardando o que o DJ que ninguém nunca viu nem sabe bem quem é tem a oferecer em 3, 2, 1... Sua mão, dizem, é invisível
E os que aguentam o fazem por necessidade ou pela tara pelo que vai tocar depois, viciados no sistema e incapazes de questioná-lo.
Dentro da Matrix é difícil ver a Matrix.
Com a trilha certa, então, dá para requebrar no bambolê uma vida toda no mundo de faz-de-conta! Ninguém nem sente a urgência de uma cirurgia no quadril, ou no córtex.
Urgente é dançar conforme a própria música, nem que seja de vez em quando, para escutar os sinais e ouvir o silêncio. Nem que para isso seja o caso de fugir da pista à francesa, chorar no banheiro ou abafar o grito no travesseiro.
Se ninguém nos ouve, que nós nos ouçamos.
Que cantemos a plenos pulmões sem esperar segunda voz.
Que façamos um falsete entre uma reunião e outra e tamborilemos os dedos do nosso jeitinho irritante.
Se ninguém nos ouve, que nós nos ouçamos
É preciso que, das 24h do dia, ao menos uns minutos comecem a ser a trilha do nosso filme e não do dos outros.
É preciso, então, formar corais com vozes que se complementem e dêem insumos para uma nova coreografia - uma dança diferente, que vai, claro, ser ridicularizada no início.
Continuemos, vamos…
Com o tempo, o som pode subir e a coreô improvável pode virar tendência, trazendo uma acústica espetacular para o ambiente e uma dança mais humana.
Ninguém arrisca dizer exatamente como seria. Só ensaiando, começando a mudar o ritmo já, pra gente saber.
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Uma nova coreografia no Repertório
UM FILME
Druk, para alugar na Prime Video
Essa obra-prima do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg ganhou a visibilidade merecida depois de levar o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2021 e merece cada minuto da sua atenção. Se já viu, vale rever - como eu mesma fiz nesta semana. Aliás, o embalo do final do filme foi justamente uma das inspirações para esta Descarrego…
Eu pensei em tudo o que ganhamos apesar de e por causa dos altos e baixos da vida, na própria decisão de vivê-la intensamente e em como isso nos leva a um ritmo próprio, a nos soltar, a nos entregar ao futuro sem tantas amarras.
É preciso ir fundo a fim de (re)encontrar uma toada particular que nos leve à plenitude, não aquela romantizada, mas a real, ainda mais bonita.
…
UM LIVRO
O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano
Aqui vai mais uma releitura que me inspirou tanto, tanto que mereceu indicação. Eis uma pérola publicada em 1989 pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, conhecido pelo genial As Veias Abertas da América Latina (1971). No livro, ele traz pequenos textos primorosos, que reúnem memórias de suas intermináveis pesquisas e andanças pelos países latino-americanos, devaneios e lições de vida muitas vezes desconcertantes. Abraça, acolhe, mas também empurra para refletir no pessoal e no coletivo - afinal, é Galeano, e ele jamais perde o viés crítico ao capitalismo e ao colonialismo que permeia toda a sua obra.
É um dos meus queridinhos da vida; espero que vire seu também.
…
UMA TRILHA
Montei essa trilha todinha pensando no conceito de desencaixar, de se aceitar enquanto desafia os tempos e movimentos do mundo atual em pílulas, pequenas rebeldias. Cada música tem essa pegada à sua maneira e foi montada com o maior carinho. Ouço sempre para me energizar, inclusive, a continuar e redimensionar esse projeto, que contribui para a carreira e a marca pessoal sem perder de vista saúde mental, pequenas alegrias e outras boas coisas da vida. É meu convite a pra você dançar conforme a própria música.
Quer hablar de parcerias?
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Quem sabe a gente se entende ;-)
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em mentorias individuais, palestras, treinamentos em empresas e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal! No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
Essa newsletter sai toda terça com um mix de texto lúdico e curadoria de repertório pra gente se soltar nas ideias e refs. Compartilhar faz MUITA diferença, então é só usar o botãozinho aqui:
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