Ah, essa newsletter falhou e eu contei por que nas redes sociais: torci feio o pé, preparei uma mudança voando, precisei escolher e, escolada que sou, não hesitei em mandar a real para mim mesma e para cada assinante da Descarrego: eu não sou Mulher Maravilha, meu bem.
Venho de burn out, separação e passagens variadas pelas camadas do infernão com a lição aprendidíssima de respeitar limites e entender prioridades. 😉
Saúde e paz, crianças.
Não fiquei offline, mas de certa forma estava com o "olhar de fora", sabe? Foi o que inspirou esse texto, que parece uma grande reclamação, mas, te juro, é praticamente o avesso.
Espero que caia bem aí.
Linda semana, bom feriado, aguenta firme porque você é muito mais que as suas obrigações. E o futuro, a gente vai construindo agora.
Não leu a sessão de Descarrego anterior? Pega o embalo e CLICA AQUI para ler os textos que já publiquei.
Descarrego #21 | Aguenta aí
Eu não aguento mais ouvir que tal coisa é tendência.
Eu não aguento mais ler dicas para um futuro que, na real, ninguém sabe como vai ser.
Eu não aguento mais ver gente falando das suas certezas que são incertas, como é da natureza das certezas.
Eu não aguento mais o termo futuros que precisam ser no plural e possíveis e escolhidos e preferivelmente otimistas.
Tampouco aguento mais o futuro no singular ranzinza, doente, simplista, briguento, fatalista, amargo, cinzento.
Eu não aguento mais achar que eu sei alguma coisa do futuro.
Eu não aguento mais ouvir que ninguém aguenta mais.
Eu não aguento mais ouvir que ninguém aguenta mais
Eu nem me aguento mais escrevendo isso aqui, ou aguento porque dizer que não aguento é uma forma de liberar o cansaço latente de viver aqui-agora, no entremeio de um mundo que muda uma década em uma semana.
Quem aguenta essa ansiedade, essa angústia em sanidade, graça e sabedoria?
Os que dizem que aguentam e estudam isso ou se dedicam a ajudar a diminuir essas lamúrias e dores muitas vezes são os que menos aguentam. Acredite, eu sou um deles e sei o que estou dizendo.
A gente só acha que aguenta tudo isso porque é programado para tal. Porque trata de esperançar em meio ao desespero. Faz de conta que sabe das coisas e sai repetindo falácias em série - mentiras sinceras - tatuando cada uma delas na cabeça e no peito pra formar um escudo de super-herói à prova de raio, luz, trovão, estrela e luar.
É que esse exoesqueleto humano forjado nos nossos tempos protege dos "não aguento mais", porém carrega o efeito colateral de barrar sutilezas cotidianas, pequenezas gentis, delicadezas inúteis, incertezas felizes, carpe diem inconsequente, tristezas elegantes bem sofridas ao som de blues, paixões sem perspectiva, mergulhos em águas desconhecidas, tentativas infinitas, pureza em marmanjos feito nós.
Aquilo que é inútil pena para passar pelo porco-espinho que habita em nós!
A agulhas se mantêm tão afiadas justamente para nos fazer sentir normais e adequados em meio à anormalidade absurda que suga, esturrica e destrói o que os humanos costuma(va)m ter de melhor.
Aquilo que é inútil pena para passar pelo porco-espinho que habita em nós
Ser humano parece ultrapassado...
As previsões, essas que não aguento mais, juram que as capacidades humanas serão indispensáveis, porém estão pregando esse humanismo fajuto a favor do sistema - o mesmo que oprime -, e o fazem com os neurônios de joelhos, clamando aos santos, anjos, orixás, exus, gurus e ao universo para que nosso “cerebrinho” e nossos traços animalescos tenham alguma serventia na era artificial e desigual que já começou.
Ah, eu não aguento mais adjetivar infinitamente para tentar expor em detalhe a mentira na qual estamos enredados ao endeusar a tecnologia e emular o progresso (esse conceito mofado), enquanto rentabilizamos e hipervalorizamos o cansaço por estarmos perdidos em meio a tudo isso que, lembra?, nós mesmos criamos.
Rentabilizamos e hipervalorizamos o cansaço por estarmos perdidos em meio a tudo isso que nós mesmos criamos. Mas reclamar e participar são dois lados de uma só moeda, é o mesmo discurso, só que no modo invertido
É uma só moeda, o mesmo discurso, só que dito no mundo invertido. Um grande meme em sequência, compartilhado ad nauseum para engolir seco o almoço e o jantar, se tivermos sorte.
Você a essa altura já não aguenta mais me ler porque pode estar sentindo a náusea que colocar os óculos provoca. Até porque esses óculos são meus e certamente não se encaixam perfeitamente às suas miopias, aos seus astigmatismos e cia.
Não aguentar mais e precisar dizer isso é parte do jogo de sobrevivência, fazer o quê? Somos humanos, que ironia.
É parte de tentar tirar a armadura e deixar a pele à mostra, encontrar uma frestinha de sol, umas gotas de chuva e se re-humanizar nem que seja à espreita. Não porque funciona, ou porque o novo mundo pede essa capacidade. Mas só pra ser humano mesmo.
Pra lembrar que existe o hoje, e esses futuros aí, sabe lá deus como serão.
Eu posso até entrar no jogo, fazer pontos, ser gravada na quadra e sair campeã, mas não aguento mais fingir que essa é a vitória.
Pra mim, ela é ter onde, como e com quem tirar a casca grossa e ser tremendamente sensível, num multiverso em que não preciso aguentar ou não aguentar. Lá, as cargas são leves e as incertezas borboleteiam sem rumo e sem precisar se travestir de dragões. Tudo é frágil e por isso infinitamente mais forte.
Quero um lugar no qual tudo seja frágil e por isso mesmo infinitamente mais forte
No meu delírio antiprático, cada um tem seus multiversos e pode dividi-los sem pressa para suspirar em conjunto à revelia de dias irrespiráveis.
É um caminho sem volta, porque esses locais mágicos passam a co-habitar nossa jornada no mundo de cá, tal qual um psicodélico que abre rotas neurais para nunca mais fechá-las.
E é por isso que a gente passa a aguentar, depois de tanto dizer que não aguenta mais.
Paradoxo e também queijo e goiabada. Paradoxo, afinal. Contradiz, complementa, tudo ligado.
Não aguenta nada e, assim, de repente, suporta tudo.
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Aguentando (ou não) o mundo no Repertório
UM FILME, OU DOIS…
Eles Vivem
"Eles Vivem", filme de 1988 dirigido por John Carpenter, já esteve em indicações de cursos meus e volta cá pra newsletter porque mistura ar cult, estética trash 80 e a instigante história do homem que encontra óculos que permitem que veja a realidade sob outro prisma, assustador. Ele passa a ver como as pessoas realmente são, o que está por trás dos anúncios e textos, o capitalismo engolindo tudo ao redor… No mínimo, entretém. Na Apple TV, pago.
…
Ex Machina
Falando sobre inteligência artificial e a nossa falha ancestral em nos deslocar do presente para prever o futuro, o clássico “Ex Machina” cai como uma perspectiva interessante sobre 1) a tendência a humanizar tudo e 2) como um mundo de alto avanço tecnológico poderia nos superar/suplantar. Do badalado roteirista e diretor Alex Garland, está em várias plataformas, em versões pagas: Amazon Prime, Google Play...
…
UM LIVRO
A Náusea
Eu podia trazer autores futuristas e críticas ao Neoliberalismo, mas a verdade que o estranhamento que me instigou a começar o texto, sem saber para onde ele caminharia, veio do primeiro livro do Jean Paul Sartre que li (creio que em 2002), até hoje o meu preferido dele: “A Náusea”. Eu ia me recusar a escrever que é para estômagos fortes, mas agora já foi rs. Ali estão as primeiras bases do existencialismo, em formato de romance. O autor trabalha a sensação, batizada de náusea, de sentir a realidade de forma diferente, desconfortavelmente presente em cada um e em tudo ao redor.
Pode parecer piração, mas é disso que falo quando bato na tecla do repertório: leituras ou vivências aleatórias e antigas podem ser a semente improvável de um texto ou um projeto mais tarde… Ali, no emaranhado da mente, tudo se recria, tudo se transforma.
Quer hablar de parcerias?
Se achar que a gente merece uma parceria, que sua marca deveria estar aqui ou nas minhas redes e que pode me inspirar, vamos? Responde esse e-mail ou me chama lá no inbox do Instagram, no @brufioreti.
Quem sabe a gente se entende ;-)
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em mentorias individuais, palestras, treinamentos em empresas e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal! No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
Essa newsletter sai toda terça com um mix de texto lúdico e curadoria de repertório pra gente se soltar nas ideias e refs. Compartilhar faz MUITA diferença, então é só usar o botãozinho aqui:
Se não assina ainda, tá aqui seu link: