A meia dúzia de pessoas que convive muito comigo e acompanha essa newsletter já está rindo do título, certamente, porque minha aversão a banana é anedótica... pelo menos para quem está de fora; para mim é uma sofrência antiga.
A partir daí, conto uma historinha e uma viagem pessoal com o nome e os desdobramentos do meu desafeto - frutífero, devo dizer - para que você se entretenha assim como os meus chegados fazem há anos.
Boa semana 😉
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Descarrego #20 | Odeio bananas
Reza a lenda que a criança tranquila e receptiva a todas as gracinhas e papinhas apresentadas pelos pais, naquele dia fez sua primeira expressão de nojo - uma daquelas mapeadas há décadas pela neurociência.
Cuspiu o conteúdo da colher, desgostosa, para o espanto dos progenitores, que acreditavam estar oferecendo a iguaria dos deuses dos bebês: banana amassadinha.
Ela cresceu sofrendo todo tipo de bullying pela repulsa.
A mãe insistia.
Como faziam as mamães à época, preocupadas com o apetite das crianças, dava colheradas de Biotônico Foutoura e disfarçava a banana com outras frutas em vitaminas cremosas bem docinhas, dizendo que o cheiro que a criança ACHAVA estar sentindo era de morango, laranja...
A pobrezinha tomava segurando as narinas até terminar, sob o olhar inquisidor da família e, mal terminava o copo, ouvia o sarcasmo da irmã 3 anos mais velha, se deliciando: “Lógico que tinha banana, sua boba”.
A pequena desconfiava, mas bebia, utilizando a técnica do autoengano para agradar a terceiros que lhe seria útil nas décadas seguintes. Porém, nunca conseguiu evitar a cara de nojo no final da performance, nem nas vitaminas infantis nem nos desaforos da vida adulta.
Usava a técnica do autoengano, tão útil. Mas desde pequena nunca conseguiu evitar a cara de nojo no final da performance
O desgosto por banana nunca passou, para ela, a fruta é uma praga a ponto de macular o lugar, provocar ânsia. Não se orgulha, mas não consegue engolir a presença da dita-cuja no ambiente, por isso precisa confessar rapidamente a amigos e namorados, a fim de evitar o pior.
Com o tempo, percebeu que o natinojo por banana se expandia para os demais usos da fruta no Português. Fenômeno curioso.
Nunca, que se lembre, ousou usar a expressão “dar uma banana” para tal coisa. Aliás, o próprio ato lhe enoja: como alguém pode ser tão desinteressado pelo outro, tão narcísico, a ponto de simplesmente dar de ombros para alguém ou uma situação?
Prefere o “foda-se” - esse sim, utilizadíssimo pela hater que descrevo - mais provido de energia, rebeldia, engajamento.
Se “taco o foda-se”, o faço de maneira consciente, intensa, tem força ali. Se “dou uma banana”, simplesmente ofereço o meu pior e viro as costas, com o rastro fétido da indiferença
Se “taco o foda-se”, o faço de maneira consciente, intensa, tem força intrínseca ali! Se "dou uma banana", simplesmente ofereço o meu pior e viro as costas, com o rastro fétido da indiferença. Cheira a banana passada, e o cheiro de banana passada, para ela, é uma praga que dificulta respirar.
Tem também “os bananas”, termo meio ultrapassado mas extremamente adequado para descrever uma classe de homens. Perceba, sempre no masculino. “Nem todo homem, mas sempre um banana...”
Os bananas, nossa garota entendeu cedo, são os omissos, não bancam opiniões e muito menos parceiros e parceiras com opinião, visão de mundo clara, pessoas fortes, que não se “embananam” para dizer o que pensam ou pelo menos não se embananam no ato em si de pensar.
Gente pensante irrita os bananas. Gente assertiva, idem.
Os bananas, nossa garota entendeu cedo, são os omissos, não bancam opiniões e muito menos parceiros e parceiras com visão de mundo clara, pessoas fortes
Eles tentam manter a casca dura, mesmo se já estiver putrefata, para se proteger do mundo, porque, coitados, não aguentam nada. O probleminha é que essa casca muitas vezes machuca as frutas que estão perto, piora seus cheiros e sabores.
Nessa tentativa inocente de não se colocar muito sobre nada, os tais bananas se tornam uma espécie de maçã podre dos relacionamentos.
Bananas não se tornam morangos nem abacaxis nem jacas nem nada mais. Eles costumeiramente nem sabem que o são. Se já não têm o “preço de banana” de antigamente - porque até eles estão inflacionados no mercado -, continuam abundantes, dando aos cachos.
Caminham por aí, infiltrados como nos sucos da mãe carinhosa, apenas para deixar seu gosto estranho no final. Até que você perceba a natureza do intruso ou alguém lhe chame de otária como a irmã fanfarrona, você vai engolindo, achando que é bom, e, como diria Raul Seixas, tem vitamina, engorda e faz crescer.
De tudo isso, resta certo ranço de quem conhece bem a “República das Bananas” e não sabe plantar bananeira, a não ser dentro da água. Ah, e nunca vai experimentar um picadinho à paulista completo (mas dá para viver muito bem sem isso...).
Para quem achar que é frescura, falta de ter passado necessidade na vida, dois recados.
Primeiro, não conheceu a história toda da nossa personagem, não julgue a menina tão apressadamente, pela casca.
Nem, por favor, vá criando anedotas pseudofreudianas, hein, quinta série B?!
Segundo, não entende provavelmente porque não veio à Terra com papilas gustativas e genes que regem o olfato sensíveis e meio apocalípticos.
Você que rejeita coentro, jiló, peixe, salsão, uva passa, pimenta, curry, pimentão, mamão, carne, cerveja, café... você. Você entende.
Talvez a pessoa que ler tudo isso sem humor, achando uma imensa frescura, não experimente paixões e ódios sensoriais, pelo menos não em tamanha intensidade.
Talvez seja só mesmo mais um... banana.
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Quem sabe a gente se entende ;-)
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Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em mentorias individuais, palestras, treinamentos em empresas e cursos. Tem infos e conteúdo no perfil @projetodesencaixa
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