Minha décima primeira newsletter, que está aqui na sua frente, é feita por uma não mãe refletindo um pouquinho sobre o tema em homenagem à sua mãe!
Ana Lúcia, que vem a ser minha mami, como a chamo, completa 70 anos agora dia 17 forte, bonita, amada e com uma alma romântica que só, contando vitórias incontáveis de vida, de saúde, de generosidade.
Mesmo tendo chorado muito, ela aprendeu a rir ainda mais - e eu, assim como as minhas duas irmãs, herdamos esse traço dela, de sempre achar graça e tirar forças para lutar e acreditar no ser humano, nos animais, nas plantas, na vida e em uma força maior.
Herdamos ainda o demasiado romantismo, (in)felizmente, e estamos sempre caçando "um bem" tipo o dela, que vem a ser o meu pai com seu indefectível hábito de caçar uma florzinha na calçada que lembrou "a bem" - mas esse estrago psicológico involuntário deixo para Freud e outros textos, quem sabe em tom de comédia rs.
"Ser mulher é ser coragem", diz sempre a minha amiga e artista espetacular Paula Costa.
Minha mãe é. Eu sou. Você é.
Feliz que venho dessa vez com uma seletíssima parceira que admiro demais para indicar para vocês, a Oya, está lá adiante com cupom e tudo.
E feliz de ter coragem de falar de algo tão íntimo aqui, para cada uma que me lê. Ah, obrigada por me ler!
Sugestão: coloca essa música para acompanhar o texto a seguir, ou ouve logo antes para sentir do que estou falando. Depois, claro, te sugiro me escutar lendo o texto, que narro com todo o meu amor. E não é pouco :-)
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Descarrego #11 | Como nossas mães
Chorei escutando "Uma Canção Desnaturada", pensando na "curuminha" que fui para a minha mãe.
A menina cheia de energia que um dia cresceu, se maquiou com aquela sombra azul líquida bem anos 70 dela e saiu estabanada de casa para estudar e às vezes beber umas doses a mais, mais cedo do que devia...
Não se engane, essa “curuminha” estabanada foi muito foi bem comportada, de modo geral. Você vai ver a seguir.
Nenhum feito, diploma, boas maneiras, porém, preencheu o ninho vazio que deixei lá - eu e minhas irmãs, todas muito ligadas a esse mesmo ninho, mas com suas vidas estabelecidas em outros tetos e chãos.
Nenhum feito, diploma, boas maneiras preencheu o ninho vazio que deixei na casa dos meus pais
É da maternidade o parir, um constante parir que tem suas dores revividas em diferentes fases e cortes de cordão. Mas, dessas dores, creio que só as mães falam com propriedade.
Eu?
Eu soube cedo das dores que a "curuminha" aqui causou à própria progenitora. Soube cedo demais, aliás, porque ouvi besteiras e encenações de família sobre minha suposta história de rejeição desde os 3 aninhos.
Só muito recentemente me detalharam o caso e entendi os porquês e os comos de uma maternidade como a que me trouxe à vida.
A gravidez vinda depois de uma vasectomia, com uma mãe profundamente deprimida, tomando uma série de remédios pesados e apavorada de, sem querer, aquilo fazer mal para à sua nova filha, ou filho - nem disso se sabia à época, bom lembrar.
Ela não se dava com os contraceptivos fortíssimos da época (ainda bem, pois muito tarde, aos 45 anos, minha mãe sobreviveria a uma trombose normalmente fatal no intestino, veja como o corpo é sábio).
O médico da cidade tampouco aconselhava que ligasse as trompas, como muito se fazia, porque seu psicológico estava deveras abalado. Ana e Nei, meus pais, eram um casal jovem, que queria encher a casa de filhos se pudesse. Mas os especialistas recomendavam que parassem ali a prole com ela daquele jeito. Não havia recursos na medicina para tratar seja lá o que fosse que achavam que ela tinha que a deixava tão mal.
Convidaram então meu pai para testar a novidadeira vasectomia que tinha chegado à região - ele fez o que era preciso, a primeira vasectomia das redondezas, mas os apaixonados se apressaram mais do que devia, as orientações do pós não foram nada claras, e veio... o espermatozóide superpower: EU!
Imagina o susto da Ana Lúcia ao descobrir isso já com 3 meses de gestação e cheia de tarja preta no corpo!
Imagina a diferença de hoje: não dava para checar nadinha do bebê, que estava lá e agora era rezar e esperar os meses subsequentes. Avisaram da pior forma que as consequências poderiam ser inúmeras para o bebê. E ela já engoliu a primeira dose de culpa ali mesmo.
Era, muito mais do que hoje, um exercício de fé - embora só os arrogantes esqueçam que, de certa forma, sempre será.
A gravidez, muito mais do que hoje, um exercício de fé - embora só os arrogantes esqueçam que, de certa forma, sempre será.
Nasci.
Fui um bebê sereníssimo, meus pais contam. Iam checar se estava respirando de tanto que dormia - hábito conservado até hoje com sucesso rs.
Sempre penso que dormia tanto e tão bem quando bebê porque algo em mim já sabia que pelo-amor-de-deus a mãe precisava de paz para conseguir dar conta de tudo o que se passava fora e dentro dela.
Sei disso porque passei a vida sem querer dar trabalho para essa mãe, muito preocupada em fazê-la feliz e me inspirando nela, tão bonita, divertida, articulada, agitada, difícil de decifrar às vezes. Era tão feliz e tão triste, como pode? Pode, né? Hoje sabemos bem.
Vim ao mundo cheia de saúde e virei muitíssimo a cara dela, a Ana Lúcia, que nesta semana faz 70 livre e tão mais leve do que já foi!
Temos tanta semelhança: a voz, o jeito, a comunicação, o humor, o gosto, algumas melancolias também... eu só não tive as minhas "curuminhas" como ela e o meu ninho está aqui cheio com dois gatinhos, que ela chama de netos porque é muito fofa.
Tenho 40 anos e muita informação sobre isso, até porque uma das minhas irmãs é neonatologista, entende demais de gestação, bebês, inseminações e afins. Conhece o que se propaga, mas também o que nunca se revela.
Sabe… passei a vida sem vontade de ser mãe, já contei algumas vezes sobre isso, simplesmente não bateu. Por quê? Tem uma razão para isso? A gente pode buscar na Psicologia, na Demografia, na Sociologia, na Poesia, tem mil formas de interpretar uma não maternidade, assim como uma maternidade escolhida ou não.
Não quis, não rolou, dei meu sonoro “não” para essa ideia há tempos com paz no coração.
O que mudou de lá pra cá?
Só que hoje eu me peguei pegando nisso: a possibilidade de escolha para tantas de nós. Podemos, de fato, nos colocar a refletir sobre o tema, sem essa dicotomia e essa pressa que nos assolava até anteontem.
Nunca quis ser mãe, mas hoje me peguei pensando nisso: nas possibilidades de escolha para mim, para tantas de nós, impensáveis na época que minha mãe engravidou de mim com tanto risco
Imagine a tranquilidade da Ana Lúcia lá dos anos 1980 se tivesse podido congelar os óvulos para engravidar tão somente quando seu cérebro estivesse mais equilibrado? Quanta dor e culpa evitadas?
Podemos usar um reconfortante "não era para ser", claro. Mas hoje dá para ser, e isso traz uma sensação tão nova e refrescante de liberdade! Um certo medinho por ter mais escolhas na ponta dos dedos, mas, ora!, liberdade.
Liberdade para a mulher conhecer melhor seu corpo, seu momento, entender o que e como quer seus cuidados com esse corpo e aí, usando a ciência que criamos, deixar sem tanta tensão a linda parte que cabe a Deus ou às Deusas, como preferir. Todos juntos trabalhando pelas "curuminhas" que virão.
A maternidade já tem tanto de dor, né? Trouxe essa música no início porque é uma das muitas que me faz chorar pela beleza imensa da relação mãe-filho, dessa coragem que é o “tornar-se mãe”. Uma ligação que nunca é realmente cortada, inclui premonições, incertezas, angústias, mas também deleites peculiares, amores grandes, imensos, continentais… pelo que sei.
Tão forte, dolorida e também bonita essa ligação que nunca é realmente cortada de mãe e filho. Inclui premonições, incertezas, angústias, mas também deleites peculiares, amores grandes, imensos, continentais
Muitas amigas minhas estão olhando mais para seus úteros, vaginas, seios e afins. Estão congelando óvulos. Estão podendo pensar sobre isso! Estão decidindo decidir já já e isso, ainda que hoje ainda não chegue a todas as mulheres, tem potencial para ser o começo de um caminho inexorável de libertação de corpos.
Não apenas para desafiar o dito normal ou driblar fases da vida ou aguardar um momento mais propício pensando apenas na gente mesma - mas, para se for o caso fazer um pouco disso, sim.
Escolher parir, não parir, como fazê-lo, quando, adotar, não adotar, como viver, como se cuidar, como envelhecer...
Escolher parir, não parir, como fazê-lo, quando, adotar, não adotar, como viver, como se cuidar, como envelhecer...
O lance do meu corpo minhas regras - usando sem problemas até o trocadilho com a menstruação - vai cada vez mais passar pela ciência e suas possibilidades. Pelo que não queremos nem precisamos mais engolir. O poder de entender esse corpo feminino numa amplitude tão maior que as besteiras modernas antiquadas (Modernas usado aqui como “herdadas do Modernismo e ainda não superadas").
Imagina? Taí ao nosso redor.
Com ética, sim, sem ela estamos todos lascados.
Então, com ética, com cuidado, com carinho, as histórias podem ser mais deliberadas de um jeito bonito e saudável, principalmente, para mãe e filho.
Sei lá… escutar a música da "curuminha" mexeu aqui especialmente pois minha bisa era índia, parte de mãe mesmo, e essa é uma história quase que apagada, que a gente amaria saber mais…
Mexeu tanto aqui porque, apesar das lancinantes dores que a música traz, me fez pensar: hoje temos como remediar certas dores e nos jogar em outras, intencionalmente.
Pensei, talvez até eu possa congelar os meus óvulos, por que posso, porque sim... E por que não?
Acho justíssimo que os 70 anos de uma mãe tão inspiradora como a minha me deem gatilhos assim, dá licença! rs
Obrigada, Ana Lúcia, em nome de suas "curuminhas" às vezes um pouquinho desnaturadas, mas que todos os dias te amam muito e usam seu lema "força e coragem" inspiradas com orgulho na senhora.
Quer ouvir esse texto?
Clica a seguir para ouvir a versão desse texto narrada por mim...
Mães e filhas no Repertório
UMA TRILHA
Ainda estou sob o impacto do show do Chico Buarque, da turnê "Que Tal Um Samba?", a que assisti dias atrás. A música que inspirou esse texto consta no repertório brilhantemente cantado pelo Chico com a genial Mônica Salmaso. Para sentir o gostinho, vai aqui um link com grande parte da trilha original do espetáculo para você se deleitar.
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UMA JOIA QUE CONHECI, A OYA
Além da música e da minha mãe, algo que me inspirou pra esse newsletter foi uma clínica inovadora que uma amiga muito chegada me apresentou, me dando aquela sacudida do tipo: “sem desculpa, agora vai se cuidar”.
É a Oya Care, primeira clínica virtual de saúde para pessoas do sexo feminino do Brasil, que nasceu com o objetivo de ser uma aliada na nossa autonomia, com foco em ginecologia, fertilidade e contracepção. Um dos serviços oferecidos é a avaliação preventiva de fertilidade, uma jornada que leva em conta sua saúde como um todo e te ajuda a fazer um planejamento reprodutivo de acordo com a sua realidade.
Conversamos então, eu e a Oya, e ela gentilmente disponibilizou um cupom especial para quem quiser conhecer os serviços mais de perto. Bom, hein? É só usar BRUFIORETI10 na hora de fazer o agendamento. Me conta como foi, porque também tô indo nessa :-)
…
POR FIM, UM COMERCIAL VINTAGE
Essa vai ser uma piada, porque minha mãe não bebe, mas eu... ah, eu curto, vocês sabem?
Pois fui procurar a nossa frase de mãe e filha predileta quando eu era muito criancinha ainda e achei de onde era, de propaganda uma vodca! A nossa brincadeira na hora de nos despedir toda vez era ela perguntando pra mim: "Bruninha, quem é você? ", e eu respondia muito empolgada: "Eu sou você amanhã". Até hoje falamos… Pois tá feita a profecia, sou a cara dela e adoro uma bebida boa rs.
Taí o comercial, quem lembra?
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Reticências
“E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que sua filha
Eu fiquei sua fã”adaptação livre aqui da canção de Nelson Gonçalves e Raphael Rabello que, na nossa família, é choro certo porque é a preferida do Vô Heitor, pai da minha mãe, que nesta semana não está “naquela mesa”, mas certamente em algum lugar está cheio de orgulho da primogênita que ele tanto amava <3
Que tal hablar de parcerias?
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Quem sabe a gente se entende ;-)
Eu e o que escrevo
Textos, indicações de repertório e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, especialista em branding pessoal e carreira multipotencial, tenho pós em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por mais de 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, business coaching, treinamentos em empresas e numa mentoria bem seleta chamada Desencaixa - que está na lista de espera.
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