Sonhos guardados na gaveta.
Identidades escondidas no armário.
Tralhas emocionais se amontoando no quarto dos fundos.
Pilhas de ideias mofando na geladeira.
Bocas caladas, entupidas no fogão.
Roupa suja esperando há tempos para ser lavada.
Luzes antes aconchegantes, agora queimadas.
Janelas fechadas, emperradas.
Se estiver em casa, olhe, por favor, ao redor.
Se não estiver, feche os olhos e pense nos seus móveis e eletrodomésticos.
Metáforas emocionais
Quantas metáforas cabem no seu lar para expressar seus estados emocionais, suas travas atuais?
Não seria uma boa hora para abrir as janelas, as da alma, deixar o vento bater no cabelo e respirar fundo um novo e fresco ar?
Como naqueles programas sobre acumuladores, deixamos por vezes sentimentos, mágoas, projetos se empilharem de forma nada agradável. Fechamos a porta, acuados e apegados ao antigo, e fingimos que está tudo bem, que precisamos deixar aquilo ali quietinho para seguir o dia a dia.
Não, não: é hora de faxinar!
Entrar no quarto escuro, acender a luz e enfrentar aquele monstro, que não é tão forte nem perigoso assim quando encarado de frente.
Dá para aproveitar a ideia de forma literal e realmente remexer a casa, enquanto repensa a vida. Mas é igualmente útil fazê-lo no plano das ideias.
Que força tem uma simples lista de sonhos que você tem e que está escondida no fundo da gaveta, como disse no início.
Por que abandonou a ideia?
É possível retomar?
Ainda faz sentido?
Sonhos mofados
Até deixar velhos desejos de lado é libertador porque tira a carga de não ter realizado.
Numa linguagem mais técnica: dá uns pontinhos extras para a sensação benéfica de autoeficácia, a crença de que conseguimos realizar. Afinal, quando a pilha de coisas não feitas diminui, abre-se espaço para o novo e a confiança em si mesmo aumenta.
É a filtragem de sonhos, tão pouco falada numa sociedade que parece só nos cobrar para "chegar lá".
Normalizemos a ideia de que alguns sonhos envelhecem, sim. Envelhecem mal, inclusive. Pode ser que nem fossem sonhos seus, mas emprestados das crenças de seus pais, avós…
Se for seu caso, deixe que esse sonho mofado vá e se permita iniciar outros, mais atuais e frescos.
Nessa limpeza emocional, em que gavetas e portas se abrem, pode ser hora de fechar torneiras que andam pingando além da conta também e checar paredes infiltradas e tralhas acumuladas.
São aquelas sensações que insistimos em cultivar porque parecem pertencer à nossa identidade - esquecendo que ela não é fixa!
Você não precisa ser sempre a vítima, ou a cuidadora de todos, ou a pessoas mais culpada do mundo porque um dia errou. É possível reconstruir traços da nossa identidade com o tempo, em melhoria contínua. Quão prejudicial é acreditar que porque um dia fomos de um jeito teremos que ser pra sempre!
Os vazamentos emocionais que aconteceram no passado podem e devem ser esquecidos, tire a sua lição e jogue no lixo, antes que apodreçam e tirem seu brilho. Sabe do que falo, né? Dos erros cometidos que parecem estar numa tornozeleira pesada aí nas suas canelas.
Mas pode ser também os vazamentos que você artificialmente barrou e estão aí, inflando uma série de sensações ruins dentro de você. É quando sentimos o nó na garganta pelas respostas não dadas, ensaiamos mentalmente como que gostaríamos de ter reagido naquela conversa, pensamos na promoção que deixamos de pedir...
A faxina é sobre ir para a ação, mexer fundo, para então sair de mãos limpas e cabeça erguida.
Gritos viram canto
Talvez, nesse caminho, você note que para cada porta aberta, há outras que fecham. Faz parte, não há nada de errado nesse vaivém.
O anormal é a falta de movimento, o acúmulo de ideias e sentimentos (e ressentimentos) que nos faz tropeçar na rotina dos relacionamentos pessoais e profissionais.
Os gritos presos na garganta precisam sair e, se fizermos as limpezas de manutenção, podem sair quase que como canto na maioria das vezes, mais suaves, compassados.
Ventilemos os pensamentos e deixemos que a carga emocional seja distribuída devagar e sempre. Que a energia circule para que, um dia, nos lembremos de que naquela gaveta estão os sonhos que sobraram, que ainda valem a pena.
E que então, enfim, tenhamos coragem de colocá-los na mesa.
Eu e o que escrevo
Textos, indicações e erros são culpa minha mesmo, @brufioreti 🙂
Sou jornalista, fissurada por ler e escrever desde pequeninha. Trabalho hoje com branding pessoal e posicionamento digital com foco na carreira, além de dar palestras, treinamentos e cursos para empresas.
Tenho pós-graduação em Mkt Político, cursei coisas variadas, tipo Feminismo Pós-colonial, Neurociência, Psicologia da Popularidade e Positiva, Business Coaching e por aí vai.
Trabalhei em grandes veículos de imprensa por 17 anos até começar a ensinar e mentorar mulheres na seara da marca pessoal no digital e no trabalho. Adoro autodidatismo e defendo cruzar repertórios pra nos destacar e abraçar nossos "desencaixes" nesse mundo cheio de gente enquadrada. Ensino isso prática em palestras, treinamentos em empresas, colaborações e cursos.
Pra dividir com mais gente a minha escrita e as minhas ideias, faço esse Descarrego semanal, que traz reflexões e desabafos sobre questões contemporâneas que nos afligem ou acolhem.
No insta, mostro outros lados meus também, porque a gente é muito mais que o que pensa, trabalha ou diz. É o que sente e faz sentir 😉
Essa newsletter é gratuita e sai toda terça. Se quiser compartilhar, vou amar! Só usar o botãozinho abaixo:
Se não assina ainda, tá aqui seu link: